Assassinato de Marcus Vinicius de Oliveira deixa a Psicologia de luto

A Psicologia brasileira perdeu no dia 4 de fevereiro de 2016 um de seus maiores expoentes na defesa dos direitos humanos e da Luta Antimanicomial:  Marcus Vinicius de Oliveira Silva, conhecido como Marcus Matraga. O psicólogo foi assassinado no município de Jaguaripe, que fica a 240 quilômetros de Salvador, na Bahia.

Nascido em Minas Gerais, Marcus Vinicius deixou um legado consistente, singular e relevante, defendendo ideais que levaram a Psicologia brasileira a transpor os limites de uma profissão historicamente circunscrita a uma dimensão privada e individual para outra, coletiva, sem que deixasse com isso de considerar as questões individuais e subjetivas.  Marcus Vinicius comprovou, com sua trajetória norteada pela ética e pelo compromisso com o outro, que era possível e necessário construir uma Psicologia pautada de forma radical pelos Direitos Humanos, revelando a potência de uma prática verdadeiramente transformadora.

Professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, Marcus Vinicius também foi membro efetivo da Comissão Nacional de Acompanhamento do Processo de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar e desenvolveu pesquisas e consultorias nos temas da reforma psiquiátrica e da saúde mental.

A atuação política de Marcus Vinicius também se concretizou na participação intensa junto ao Sistema Conselhos, democratizando-o, ao colaborar de forma vigorosa para a realização dos Congressos Nacionais da Psicologia e concretização de práticas horizontalizadas de interlocução com a categoria de psicólogas e psicólogos brasileiras(os). Ao longo de sua carreira, Marcus integrou, por diversas vezes, o Conselho Federal de Psicologia e os Conselhos Regionais de Psicologia de Minas Gerais e da Bahia. “Marcus Vinicius participou e esteve à frente de um processo na Psicologia brasileira que a fez sair de um lugar de saber e práticas para poucos para uma perspectiva mais coletiva e social”, explica o psicólogo Milton Bicalho.

Além de todo o legado que construiu para a Psicologia e para o movimento de Luta Antimanicomial,  Marcus Vinicius também fez muitos companheiros de trabalho e de luta. “Não há palavras para descrever a grandeza do seu exemplo. Eu perco um grande amigo e a Psicologia perde uma das suas maiores referências”, declarou o vice-presidente do CRP-MG, Ricardo Moretzsohn.

Infelizmente, Marcus Vinicius tornou-se vítima num país que diariamente testemunha o assassinato de pessoas engajadas na defesa de grupos e populações vulneráveis ao preconceito e à ganância. O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais, assim como todas as instituições comprometidas com a defesa dos direitos humanos, exige que as circunstâncias da trágica morte de Marcus Vinicius sejam devidamente apuradas e os autores responsabilizados.

“Se a voz de Marcus Vinicius foi abruptamente silenciada, provocando uma dor impossível de ser traduzida por palavras, suas lições permanecem vivas. Aqueles que o quiseram calar conseguiram privar o mundo de sua presença, mas o som de sua história e de suas convicções políticas continua ressonando para quem quiser e puder escutar, reafirmando ainda mais fortemente que a Psicologia possui um compromisso de lutar por um mundo mais justo e igualitário. Esse é o seu legado e a ele nós prometemos honrar”, afirma o conselheiro presidente Roberto Chateaubriand Domingues.

Marcus Vinicius presente!

A Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG também se manifestou, por meio de nota, sobre o assassinato de Marcus Vinicius de Oliveira. Para ler, clique aqui.

Assista o vídeo que o CRP-MG produziu em homenagem a Marcus Vinicius:



– CRP PELO INTERIOR –