Atividade discute saúde mental de crianças e adolescentes diante do ensino remoto

Encontro também repercutiu desigualdades na educação durante a pandemia

Com o início do isolamento social, em março de 2020, diferentes setores da sociedade precisaram se adaptar a esse, até então, novo momento. Uma das áreas mais afetadas foram as instituições de ensino, como escolas e universidades.

Em diálogo com esse quadro, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou, a live “Os impactos do ensino remoto na saúde mental de crianças e adolescentes”. A iniciativa integrou o projeto Saúde Mental de Janeiro a Janeiro, que tem a proposta de promover encontros mensais sobre saúde mental em interface com temas diversos.

Confira o evento na íntegra:

A coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia, Saúde Mental e Outras do CRP-MG, Cristiane Nogueira, mediou o encontro e realçou que a adoção do ensino remoto escancarou e agravou as desigualdades existentes no país. Dados do Datafolha mostram que 10,6% dos estudantes da classe D e E pararam de frequentar as escolas.

Após a abertura, a palavra foi passada para o conselheiro de referência da Comissão de Orientação em Psicologia Escolar e Educacional do CRP-MG, Luís Henrique Cunha. O conselheiro explicou que, ao atuar em interface com a Educação, a Psicologia deve assumir uma postura crítica e que leve em conta toda a comunidade escolar. Nesse sentido, quando se fala sobre a pandemia, Luís Henrique apontou que o principal ponto é o impacto do distanciamento social para as(os) estudantes, que se relaciona não apenas com a aquisição de conhecimento, mas também com as outras funções da escola, como a social e protetiva. “Em muitas situações, a escola é abrigo para situações de risco e vulnerabilidade de violência doméstica e maus tratos”, afirmou.

O convidado do evento foi o professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei e coordenador da Comissão de Orientação em Psicologia Escolar e Educacional do CRP-MG, Celso Tondin.

Celso enfatizou que não é possível afirmar que os transtornos aumentaram, mas que ficaram mais perceptíveis e que, portanto, é necessário que as(os) adultas(os) da família não assustem ainda mais as crianças. “Todos nós temos uma função protetiva e a nossa fala é sobre o cuidado com o aprendizado e o desenvolvimento. Crianças mais ansiosas e com episódios mais frequentes de humor deprimido precisam ser acolhidas por nós, sejamos familiares ou educadoras(es) escolares, e dizer para elas, a única segurança que podemos garantir nesse momento atípico: ‘eu estou com você’”, comentou o psicólogo.

Outro aspecto relevante apontado pelo psicólogo é que as desigualdades do país podem intensificar esses sentimentos nas(os) alunas(os). No início do ano, o Unicef divulgou informações de que, em outubro de 2020, 5,5 milhões de crianças e adolescentes estavam sem atividades escolares ou fora da escola. Esse número é composto, em sua maioria por meninos, negros, indígenas, estudantes com deficiência e moradores de zonas rurais do Norte e Nordeste.

Peculiaridades do ensino remoto – “As escolas vão do descaso à super exigência. Educadoras e educadores não são responsáveis, porém, as condições em que estão trabalhando levam a um abandono pedagógico, porque não têm meios para acessarem essas crianças”, ressalta Celso Tondin. Ao mesmo tempo, ele comenta sobre instituições que tentam reproduzir o ensino presencial no modelo remoto e como essa tentativa acaba gerando uma hiper exigência para jovens e seus familiares, que precisam reproduzir o papel de professora ou professor.

Segundo o psicólogo, uma forma de manter maior tranquilidade diante deste cenário é saber que prejuízos no desenvolvimento e aprendizado podem ser recuperados posteriormente, em qualquer época da vida. O importante, para ele, é pensar em formas que não caiam nesses extremos de abandono ou exigência. “Aos pais, o momento agora é de acolher as(os) filhas(os), de desenvolver um novo repertório, de incluir coisas que não faziam juntos”, sugere.

O conselheiro Luís Henrique mencionou outros grupos afetados pela pandemia e a dificuldade de ensino, como as(os) estudantes do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA), quilombolas e pessoas do campo, e a necessidade de se criar estratégias para lidar com esse panorama.

Sobre a volta às aulas, os psicólogos disseram que não é o momento para essa retomada. Luís Henrique Cunha reforçou que o debate precisa ser intersetorial, uma vez que o termômetro para a conversa são as condições sanitárias.

Já Celso Tondin diz que quem pede a volta do ensino presencial nega a pandemia e que, como função protetiva dos adultos, os pais precisam ter prudência e responsabilidade. “É melhor recuperar esse aprendizado depois da pandemia do que perder uma vida”.



– CRP PELO INTERIOR –