Categoria reflete sobre as urgências da luta antirracista

Impactos nas subjetividades causados pelas heranças coloniais são destacados em live.

“A herança do colonialismo permanece muito presente em nossa sociedade de forma a organizar as relações e atravessar a vida dos sujeitos de forma bastante violenta. Por isso, a Psicologia, orientada pelo Código de Ética, assume o compromisso ético e político de se posicionar contra o racismo e fornecer ferramentas para o desmantelamento dos seus efeitos em nível psicológico, simbólico e social. Tal compromisso nos convoca a uma ação coletiva e interdisciplinar para que possamos somar esforços nesta luta”. A partir desta apresentação a psicóloga Alessandra Belmonte abriu a live “A importância da luta antirracista para as subjetividades – uma perspectiva multidisciplinar”, realizada pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais, nesta quarta-feira, 17, no canal do youtube

O evento contou com a participação de Etiene Pereira Martins, especialista em Comunicação e Saúde, mestranda em Comunicação e Cultura, fundadora da livraria Bantu em Belo Horizonte, onde trabalha com literatura que aborda as relações raciais com o enfoque na população negra; Jair da Costa Junior, pesquisador anticolonial, doutorando em Sociologia, graduado em Serviço Social, membro docente do Projeto Ciclo Permanente de Estudos e Debates sobre a Educação Básica (SIEX-UFMG); e Ueslei Solaterrar da Silva Carneiro, psicólogo, mestre e doutorando em Saúde Coletiva, diretor do CAPS III Casa Azul em Mesquita/RJ, supervisor clínico-institucional da rede de Saúde Mental de Queimados/RJ e coordenador e professor do curso de Psicologia da Universidade Estácio /Campus Campo Grande/RJ. Mediou a live Alessandra Belmonte, psicóloga, coordenadora de projetos na Cáritas Regional Minas Gerais e  integrante da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais e da Comissão de Orientação em Psicologia e Política de Assistência Social.

Ueslei Carneiro foi o primeiro convidado a se apresentar, iniciando sua fala com uma constatação: “há apenas 133 anos não escravizamos pessoas negras e indígenas, pelo menos formalmente, por elas serem negras e indígenas”. Segundo ele os efeitos permanecem nas subjetividades, considerando que o racismo estrutural é um dispositivo de poder que faz parte de um processo histórico, político e cultural; um projeto de desumanização  e subalternização das pessoas negras. “O racismo é uma estratégia de poder que deve ser pensada em um sistema imbricado onde algo que a gente fala pouco que é a questão da branquitude. Não concebo a luta antirracista sem falar sobre a branquitude, que é esta forma de manutenção de poder, de privilégios. As pessoas brancas precisam se haver com esse sistema de violência, de opressão”, assinalou.

Na sequência, o pesquisador Jair da Costa Junior fez sua exposição. Ele afirmou que sobreviver e entrar em alguns espaços faz parte da luta antirracista, pois o racismo é um dispositivo  de morte. “Opera através da morte subjetiva e física, que te limita e incapacita” disse chamando a atenção para o que denominou “imagens de controle”, que conduzem a uma representação social das pessoas negras, limitando-as às categorias subalternas e concluiu “Quando falamos de subjetividade precisamos revisitar teorias e contrapor nossa história de vida para conseguir criar mecanismos que minimizem os impactos”.   

A especialista e comunicação e saúde, Etiene Martins completou a fase de apresentações com uma pergunta: “como que eu vou sofrer por ser negra sendo que esta construção de ser negro, de ser branco, esse nomear, partiu do branco?” Em sua percepção, “quem inventou o negro foi o branco e quem se inventou como branco foi o próprio branco. Porque até então tínhamos seres humanos que viviam em continentes distintos. O europeu criou uma hieraquia racial para poder explorar a mão de obra que ele intitulou como negro.Tentou retirar toda a nossa identidade, que tudo que pudesse ver como positivo”.  A fundadora da livraria Bantu assegurou que na sociedade vive-se um racismo sem racista pois as pessoas não se assumem como tal. 

Assista a live completa: 



– CRP PELO INTERIOR –