09 fev Ciclo de debates discutiu sistema prisional e Psicologia
O Psicologia em Foco – evento realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) – desta quarta-feira, 8/2, teve como tema “Sistema prisional e Psicologia: uma relação possível?”. Para assistir a gravação do evento, clique aqui.
Os convidados para compor a mesa foram a psicóloga Luciana Patrícia Ferreira, pós graduada em Direito Público e atualmente diretora de Atendimento à Pessoa Privada de Liberdade no Centro de Apoio Medico e Pericial da Secretaria de Estado de Administração Prisional; e José de Anchieta Machado, coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, foi Superintendente de Segurança da Secretaria de Estado de Administração Prisional e especialista em Gestão Estratégica de Segurança Pública e Gestão e Planejamento Social (UFJF). A mesa foi mediada pela psicóloga e conselheira do CRP-MG, Vilene Magalhães, que atua como diretora geral do Centro de Apoio Médico e Pericial da Secretaria de Estado de Administração Prisional de Minas Gerais de Minas Gerais.
O Coronel José de Anchieta Machado fez uma análise do atual contexto do sistema prisional em Minas. Segundo ele, em 2001, havia cerca de 20 mil pessoas em privação de liberdade. Atualmente, o contingente chega a 69 mil pessoas – segunda maior população carcerária do país. O aumento do número de pessoas encarceradas foi acompanhado pela permanência de problemas como a precariedade da estrutura e a falta de efetivo.
“O sistema atualmente conta com 18 mil servidores em todo estado e se esses servidores não tiverem uma boa qualificação pode haver consequências. Essas pessoas estarão usando armas, elas detêm um poder muito grande em suas mãos e esse poder é o de limitar os direitos de outras pessoas no cárcere, onde tudo está na contenção”, explicou José de Anchieta Machado.
A psicóloga Luciana Patrícia Ferreira falou sobre o trabalho da(o) psicóloga(o) dentro do sistema prisional. Ela explicou que uma das funções da(o) psicóloga(o) dentro do presídio é fazer um plano de ressocialização individual. Em Minas Gerais, todos os funcionários participam da elaboração deste plano.
“Esse plano tem como objetivo pensar possibilidades para essa pessoa que é privada de liberdade. São estratégias de trabalho, escola, resgate e manutenção de vínculos familiares, um projeto de vida”, explicou Luciana. A psicóloga reforçou que a concretização deste plano é muito complexa, pois faltam oportunidades de trabalho e estudo para essas pessoas. “O desafio da(o) psicóloga(o) é muito ligado à garantia de direitos humanos e, às vezes, isso gera até um certo conflito dentro das unidades” , esclareceu Luciana Patrícia Ferreira.
A conselheira Vilene Magalhães contou algumas experiências que vivenciou durante quase 20 anos trabalhando em presídios e convidou as pessoas a refletirem sobre o papel da sociedade no processo de ressocialização da pessoa em privação de liberdade. “Eu pergunto: algum de vocês deixaria uma ex-detenta trabalhar de faxineira ou babá na casa de vocês ou em qualquer outro tipo de profissão? A questão é que a sociedade transfere essa responsabilidade para o Estado, mas o Estado somos nós. E se você tira as perspectivas desse sujeito, o que se pode esperar dele?”, argumentou Vilene Magalhães.