Ciclo de Eventos Psicologia em Foco retratou a medicalização e a formação docente

Mais um evento preparatório para o 9° Corep aconteceu nesta quarta-feira (16/3) na Sede do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG). Com o tema “medicalização e formação docente”, o ciclo de eventos Psicologia em Foco teve como convidados a pedagoga e mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Unicamp, Juliana Garrido, e Max Moreira, psicólogo e especialista em Saúde Mental e em Psicologia Social. A mesa foi mediada pela psicóloga Andreísa Santos. Clique aqui para ver as fotos do evento.

Juliana iniciou dizendo que o papel do professor é fazer com que o aluno aprenda aquilo que ele pretende ensinar. “Com a minha dissertação percebi que o impasse da escola como um todo está associado ao fato de que a indissociabilidade do processo ensino/aprendizagem está em cheque com qualquer profissional que aproxime da escola”, afirmou. A pedagoga explicou que ao longo da história foram forjadas diversas explicações que recaíam sobre a não aprendizagem dos alunos, como a falta de inteligência e a classe social, por exemplo. “Com o passar do tempo apareceu uma nova explicação, recorrendo ao campo médico, afirmando que os alunos apresentavam algum distúrbio”, relatou.

Ela explicou que esse processo chamado medicalização não está associado ao fato do uso de medicamentos e, que, no campo da escola alguns fatos que não pertencem a essa área acabam sendo tratados como tal. Segundo ela, este contexto é um ciclo vicioso: os alunos não aprendem, ocasionando em justificativas que dissociam o ensino da aprendizagem, desfocando o problema. A escola, por sua vez, não propõe nada novo para solucionar, surgindo um novo processo de não aprendizagem. Com isso, os envolvidos passam a acreditar que a resposta não está dentro da escola e encaminham os alunos para tratamento. “Eles acabam transferindo o equívoco para outros profissionais como os psicólogos e fonoaudiólogos. Eu acredito que exista contribuição de outras áreas com a escola, mas está sendo feita de forma errada, o que acaba pressionando outros campos a darem respostas que a escola não consegue ter”, pontuou.

Para concluir, Juliana declarou que quando a atividade docente mantém no seu centro a parceria com outras áreas, pode melhorar o resultado da criança na escola. “Cada profissional pode contribuir com seus conhecimentos específicos. A união da pedagogia com a psicologia escolar pode gerar frutos onde cada um assume seu papel central sem deslocar o que é atividade de cada um”, finalizou.

Complexidade – Max Moreira deu continuidade à discussão afirmando que as dificuldades de aprendizagem impostas parecem ser um problema da criança, apenas.  “Os alunos apresentam nas escolas, às vezes, questões que não estão envolvidas com determinada matéria”, disse. Ele afirmou que o psicólogo deve atender os professores com suas demandas relacionadas ao aluno. “A pedagogia com a psicologia tem que auxiliar no sentido de qualificar, o que no endereçamento da criança possa servir de aprendizagem para ela. O tema sexualidade, por exemplo, é clínico e há uma dificuldade na escola de transformar isso em assuntos de estudo”, afirmou.

O psicólogo pontuou que Lacan previu o que acontece hoje no ambiente escolar: haveria um remanejamento dos grupos sociais pela ciência e uma introdução da universalização, o que significa que em uma produção em série de alunos as pessoas não identificadas com uma certa mestria poderiam se tornar excluídos. “Essa previsão dele se materializa nos dias de hoje. Cada vez mais a individualidade que a criança traz a deixa excluída dentro da escola, pois o que está sendo ensinado, muitas vezes, não é o que ela não quer aprender”, relatou.

Max ainda falou da relação da ciência com o mercado de remédios. “Existe uma fragmentação e um interesse que podemos perceber com os nomes convidativos dos remédios para transtornos mentais, como o Concerta, referente à Ritalina. Dessa forma, os pais acreditam que possam ser soluções para problemas que envolvem a criança”, explica. O psicólogo finalizou dizendo que os governos também propõem dentro do aspecto ideal que a ciência promove e às vezes até oculta, sua relação com o mercado, em financiamento de pesquisas e na recomendação de determinadas terapêuticas que podem excluir o sujeito.



– CRP PELO INTERIOR –