20 mar Cine Diversidade de março celebra as mulheridades
Sessão comentada de cinema foi aberta pelo lançamento do livro “Das diversas Psicologias das Minas”
O tema Mulheridades: performatividades, contracolonialidade e produção de afetos potencializou o Cine Diversidade do mês de março, que contou em sua programação com atividades plurais para dar mais nitidez à luta e à vida de mulheres em busca de seus direitos e de qualidade para seu viver. Além da sessão de cinema comentado, houve lançamento de livro e exposição fotográfica, nesta terça-feira, 18, no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte. O projeto é promovido pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, da Fundação Municipal de Cultura e da Subsecretaria de Direitos de Cidadania. Acesse aqui o álbum de fotos do evento.
“Com uma organização e curadoria com produções fortes e de resistência, esta edição foi articulada não apenas pela Comissão de Orientação em Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do CRP-MG, mas construída conjuntamente com a Comissão de Orientação em Psicologia das Mulheres e Questões de Gênero”, explicou Tuty Veloso Coura. A psicóloga estreiou como coordenadora do Cine Diversidade nesta edição, apoiada pela conselheira referência Lorena Rodrigues e pelo coordenador da Comissão, Lucas Lopes.
Na abertura do Cine, a Comissão de Orientação em Psicologia, Mulheres e Questões de Gênero lançou com sessão de autógrafos o livro “Das Diversas Psicologias das Minas” – obra que reúne reflexões e experiências sobre a temática de gênero. Em seguida, o público presente assistiu aos documentários “Sinais Vermelhos” – sobre experiências de uma mulher soropositiva há mais de 20 anos – e “Pirenopolynda – que conta o esforço de uma mulher trans em reconstruir e re-tradicionalizar a Festa do Divino em sua cidade natal Pirenópolis, sob um viés afetivo decolonial.
O encerramento da noite abrangeu a exposição “Respeite a nossa história”, da fotógrafa Daniele Fagundes, e o bate-papo com Amanda Rodrigo, mulher trans/travesti preta periférica, mobilizadora social Cellos-MG; e com Heliana Moura, coordenadora da Unidade de Acolhimento Transitório e integrante da Secretaria Política do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas. A mediação foi feita pela conselheira vice-presidenta do CRP-MG Liliane Martins.
Relevância para a categoria – Na avaliação de Tuty Veloso Coura, “trazer nas temáticas dos filmes desta edição mulheres soropositivas e travestilidades, foi apontar para vulnerabilidades que a categoria necessita ampliar seu repertório, para construir uma atuação que seja realmente acolhedora e comprometida com o enfrentamento às violências e aos estigmas sociais”. Para a psicóloga, o Cine desperta o sentido e coloca as pessoas “em movimento com sede de transformação social”.
A coordenadora do Cine ainda indica para a categoria Psi mais opções para o que denomina “transformação da prática profissional”: a própria leitura do livro “Das Diversas Psicologias das Minas“, as “Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) nos Programas e Serviços de IST/HIV/Aids” e a obra “Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs“. “Todos foram produzidos pelo Sistema Conselhos de Psicologia e sempre vale reforçar o compromisso com a despatologização das identidades transgênero com a Resolução CFP n° 01/2018”, finaliza Tuty Veloso.
Confira a seguir pontos abordados pelas convidadas durante a sessão comentada:
“Ver as realidades e sentimentos da protagonista deste filme mexeu muito comigo, pois revivi alguns momentos que já passei. Estou fazendo 29 anos de diagnóstico de infecção por HIV e uma questão é forte para mim: nós, profissionais que atendemos mulheres soropositivas, temos que ter um olhar sem preconceitos e atento à questão do abandono do tratamento. É preciso ter uma escuta cuidadosa sobre o que está havendo com aquela pessoa, entender por que a pessoa parou com a medicação, pois é muito difícil tomar os remédios, os efeitos e tudo que envolve. Muitas vezes eu pensei em abandonar.”
Heliana Moura, graduada em Serviço Social com especialização em Direitos Humanos e Cidadania. Coordenadora da Unidade de Acolhimento Transitório. Integrante da Secretaria Política do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas. Mãe de Izabelle e Matheus.
“Minha maior preocupação é com a outra, com as outras mulheres. É preciso entender a caminhada. Temos muitas coisas para discutir sobre nossos corpos que são invalidados, abusados e com os quais muitas vezes não sabemos lidar. Ainda somos muito desrespeitadas em nossos quereres, pois estamos à margem da própria marginalidade. No final da história, somos nós que cuidamos de nós mesmas. Enquanto eu me sentir arrepiada de ver minhas manas se movimentando, parando de romantizar a prostituição e conseguindo fazer o ciclo da vida com responsabilidade, vejo que tudo valeu a pena. Nos perdemos a todo momento e isso é normal, mas é preciso se achar, entender nossa trajetória, de onde viemos. Nós construímos o nosso caminho, não temos privilégios de nada, e construímos com afeto.”
Amanda Rodrigo, mulher trans/travesti preta periférica. Assessora da vereadora Juhlia Santos, militante, mobilizadora social Cellos-MG. Estudante de Serviço Social.
“Penso que a temática mulheridades precisa ser mais trabalhada entre nós. Somos uma categoria majoritariamente de mulheres e ainda nos debruçamos muito pouco sobre o tema que tanto nos atravessa cotidianamente e de forma interseccional. Importante ainda fechar essa noite com a palavra afeto, pois é ele que tem nos guiado em nossa caminhada, inclusive na construção política que fazemos. Estamos ligadas por meio dos afetos enquanto mulheres. Que façamos essa construção ainda mais juntas e de forma responsável, porque a responsabilidade não tem como tirar dos ombros. “
Liliane Martins, conselheira vice-presidenta e co-coordenadora da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais.