Cine Diversidade reestreia com reflexões, questionamentos e esperança

Sessão comentada do documentário “Eu sou a próxima” contou com a participação da produtora e de uma das atrizes

“O que é ter uma vida pensando diariamente que vamos morrer e quais os mecanismos estamos construindo para viver neste mundo perverso e cruel?” A partir dessas provocações feitas ao público pela antropóloga, educadora e ativista do movimento de mulheres da periferia de São Paulo, Alessandra Tavares, foi realizada a sessão comentada de reestreia do Cine Diversidade. A inciativa é promovida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão de Orientação em Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, em parceria com o Cine Santa Tereza e a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Clique aqui para ver as fotos do evento.

Com o documentário “Eu sou a próxima”, da Coletiva Luana Barbosa, o Cine Diversidade teve sua retomada após dois anos de paralisação em função da pandemia de Covid-19. O coordenador da Comissão de Orientação em Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, Lucas Eduardo Lopes, explica o porquê de escolher o documentário para o relançamento do projeto: “nossa comissão buscou uma obra impactante, autoral, feita por mulheres pretas, periféricas, lésbicas e bissexuais, que aborda uma violênci

Vice-presidenta do CRP-MG, Liliane Martins, abriu o debate.

a estrutural da nossa sociedade. As narrações em primeira pessoa levaram o público a refletir, falar e também sentir esperança, potência e saídas possíveis”.

Após a projeção do documentário, a conselheira vice-presidenta do CRP-MG, Liliane Martins, fez um depoimento emocionado e realçou a importância de marcar para as mulheres lésbicas periféricas negras que lesbofobia existe. “Também sou essa mulher e estou ocupando espaços como na diretoria do Conselho, junto com a conselheira presidenta, que também é uma mulher negra, lésbica, para mostrar que temos que lutar por nossa visibilidade”, assinalou.

Para provocar o debate, a psicóloga Vivane Cunha, referência técnica da Diretoria de Políticas para a População LGBT da Prefeitura de Belo Horizonte, convidou Alessandra Tavares e Fernanda Gomes, criadora e produtora do documentário, para contarem sobre o desenvolvimento da obra.

Fernanda Gomes contou que a Coletiva tinha apenas duas câmeras e um microfone, mas uma sede enorme de justiça. “Quantas vezes morremos enquanto nós, mulheres negras bissexuais, ainda estamos vivas? O caso da Luana diz disso e precisava de atenção da sociedade, de consciência e responsabilização, inclusive dos mecanismos da Justiça. Estamos vendo que esse crime vai caducar, porque quando é sobre nossas vidas é assim que acontece”, criticou.

Alessandra Tavares completou dizendo que as mulheres seguem aprendendo a viver em um mundo de silêncio onde a morte é uma ameaça. “Transitamos em muitos lugares nos quais as pessoas não podem saber que somos casadas com outra mulher. Pensar que eu sou a próxima me mobiliza muito, mas me mobiliza ainda mais ver como isso não sensibiliza a sociedade e que temos que nos afastar dos mecanismos que deveriam nos proteger como os hospitais, as delegacias”, desabafou. “Nós ainda utilizamos uma narrativa que protege os agressores dentro das famílias e dos ambientes sociais”, completou.

O debate seguiu com participação do público, que fez declarações e identificações com o que havia sido projetado e dito. Lucas Eduardo Lopes comemorou a reestreia assegurando a importância do Cine Diversidade, que pretende oferecer mensalmente um espaço gratuito, acessível, cultural, para a população refletir sobre gênero e diversidade sexual em interface com a Psicologia. “Queremos contribuir para fortalecer essa política pública, que o Cine Santa Tereza e, ao mesmo tempo, desmistificar visões e estigmas que as pessoas possam ter em relação às temáticas que traremos. Em novembro, por exemplo, a proposta será discutir a interseccionalidade de gênero, sexualidade e raça, por meio da exibição comentada dos curta- metragens “Corpo Flor” e “Eu te amo é no sol”, finalizou o coordenador da comissão do CRP-MG.



– CRP PELO INTERIOR –