Condições de trabalho desafiam profissionais da Psicologia

Chamada entrevista Lourdes MachadoNa última entrevista da série sobre Psicologia e políticas públicas, conversamos com a psicóloga e presidenta do Sindicato das(os) Psicólogas(os) de Minas Gerais (PSind), Lourdes Machado. Ela discute questões que desafiam a atuação profissional tanto nas políticas públicas, quanto na iniciativa privada.

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) iniciou a realização das entrevistas em março deste ano, como parte da divulgação dos eventos preparatórios e do IX Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas (etapa sudeste). Veja todas as entrevistas que integram a série.

Nesses 55 anos de regulamentação da Psicologia no Brasil, quais são os avanços e desafios para os profissionais que trabalham nas políticas públicas?
Vimos uma expansão e diversificação das áreas de atuação da(o) psicóloga(o), principalmente devido à ampliação das políticas públicas e do aumento da inserção no mundo do trabalho. Por outro lado, há intensificação do sistema capitalista, que tem promovido o desemprego e a precarização do trabalho.

No setor público, apesar da expansão do número de profissionais e das áreas de atuação, o trabalho da(o) psicóloga(o) na maioria das vezes é mal remunerado e realizado em condições inadequadas.

Somos desafiados por novos olhares, questionamentos e pelo propósito de interação em uma sociedade dinâmica e transformadora. Nossa profissão é reconhecida e respeitada, contribuindo na intervenção de problemas e conflitos. A Psicologia é um fazer solicitado pelos diversos segmentos da sociedade e da participação cidadã.

E os desafios para as(os) profissionais que trabalham no setor privado e como autônomas(os)?
A nossa profissão ficou atrelada ao modelo do profissional liberal, tendo como imagem emblemática o atendimento em consultório particular. Um dos maiores desafios da profissão liberal é que algumas/alguns psicólogas e psicólogos ainda não se reconhecem como trabalhadoras e trabalhadores.  A categoria precisa se enxergar e se reconhecer enquanto uma categoria trabalhadora. Ter uma identidade.  No setor privado, o trabalho da(o) psicóloga(o) se expandiu com a inserção no mercado dos planos de saúde; no entanto, nesse sistema, o profissional sofre com a baixa remuneração dos atendimentos e com os conflitos éticos resultante das condições impostas por essas empresas. A crise financeira também reduz os atendimentos em consultórios particulares.

Há muitos anos luta-se pela jornada de 30 horas para psicólogas(os). Qual a importância dessa regulamentação para a categoria?
Hoje nossa categoria se insere amplamente nas políticas públicas e em setores diversos da iniciativa privada. Estamos comprometidos com um projeto de sociedade que minimize as diferenças sociais, proteja as minorias e resguarde os direitos humanos. Algumas profissões, como a Psicologia, têm especificidades que fazem da redução da jornada de trabalho muito mais que um sinal de desenvolvimento social, uma verdadeira necessidade para assegurar e proteger a saúde física e mental dos profissionais. Outras profissões, como Serviço Social e Fisioterapia, já conquistaram o trabalho semanal de 30 horas, os resultados dessa prerrogativa conquistada não apontam, absolutamente, para a diminuição de produtividade, mas para seu aumento. A aprovação das 30 horas seguiria a mesma coerência aplicada às outras profissões da saúde, nas áreas pública e privada, como Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e a Assistência Social. Se o entendimento é que os serviços de saúde devem ser multidisciplinares e integrais, há de se garantir condições isonômicas, observando as especificidades de cada profissão.

Atualmente, quais são as principais frentes de atuação do Psind-MG?
Na atual conjuntura de retirada de direitos trabalhistas e previdenciários e do aprofundamento da desigualdade social, a tarefa de conduzir a categoria de psicólogas e psicólogos às lutas e mobilizações de resistência permanece prioritária. Participamos de movimentos de luta contra a precarização do trabalho, pela democracia e pelas transformações sociais que a classe trabalhadora tanto precisa. Também atuamos nas seguintes frentes:

  • De cada 10 profissionais da Psicologia, 9 são mulheres. Temos uma gramática machista que ainda utiliza o masculino, e nós temos um compromisso ético/político, aprovado em assembleia de sustentar uma nomenclatura: Sindicato das Psicólogas e dos Psicólogos de MG.
  • Adotar uma gestão centrada nos atravessamentos de gênero, classe, raça, e outras intersecções, considerando que são elementos que aprofundam as possibilidades de precarização e desvalorização do trabalho, em uma sociedade patriarcal, capitalista e racista.
  • Fortalecer os espaços de participação das mulheres.
  • Lutar pela redução da Jornada de Trabalho da(o) psicóloga(o) em até 30 horas/semanais sem redução salarial;
  • Mapear a inserção da categoria no mundo do trabalho, em Minas Gerais;
  • Acompanhar os concursos públicos no estado;
  • Lutar contra as práticas antissindicais;
  • Trabalhar nas convenções coletivas na esfera pública e privada;
  • Interiorizar as atividades em Minas Gerais;
  • Defender e lutar pela consolidação das políticas públicas, movimentos sociais e Direitos Humanos, de modo ampliado;
  • Participar de forma efetiva nos conselhos de controle social e das Mesas Permanentes de Negociações, como a do SUS;
  • Defender a luta Antimanicomial: pelo cuidado em liberdade – por uma sociedade sem manicômios.

 



– CRP PELO INTERIOR –