Contexto das políticas de Saúde Mental fomentou debate no CRP-MG

Nos anos 1970 eclodiu, no Brasil, o início da Reforma Psiquiátrica, que se prestava à mudança dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, como explica o relatório do Ministério da Saúde publicado em novembro de 2005. No mês de maio deste ano, marcado pelo movimento de luta antimanicomial, o ciclo de eventos Psicologia em Foco dedicou suas abordagens à temática. Nesta quarta-feira, 29/5, foi a vez de falar sobre “As ‘novas’ políticas no campo da saúde mental e as velhas soluções para o sofrimento humano”.

Para compor a mesa, participaram a psicóloga, especialista e mestre em Saúde Mental, Viviane de Almeida; o historiador e integrante da Frente Mineira sobre Drogas e Direitos Humanos, Guilherme de Melo; e como mediadora a doutoranda e mestra em Psicologia social, Isabella Faria.

O encontro pode ser assistido na página do CRP-MG no Facebook. 

Anos de luta e trabalho foram imprescindíveis para que o Brasil chegasse às políticas de Saúde Mental atuais. É o que relatou Viviane de Almeida em sua apresentação. Ela explicou que a assistência às pessoas com transtorno mental, em seus primórdios, acontecia apenas em hospitais psiquiátricos e nos leitos. “Era uma política baseada na exclusão, na internação e no isolamento”, lamentou.

Em relação ao contexto de limitação de recursos públicos, a psicóloga ressaltou que, como parte do SUS, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) depende de investimentos. Para ela, é necessário enxergar os recursos como um ponto muito decisivo. “Nosso trabalho pela RAPS é uma construção coletiva muito importante que precisa passar pelo financiamento. Sem financiamento, o que a gente tem é a possibilidade de destruir a rede e tornar o discurso de que ela é inviável mais fácil”, destacou.

Como parte de uma possível intervenção, Viviane Almeida chamou atenção para a necessidade de aproximação do controle social e de busca por conhecimento e pelos coletivos (movimentos sociais).

Guilherme de Melo alertou para a visão relativamente hegemônica que envolve a sociedade quando se fala sobre drogas. “Drogas são ruins. Não devemos usar drogas. Drogas causam danos sociais irreparáveis” são alguns dos comentários recorrentes. “Se é um consenso, isso foi construído historicamente”, observou.

O historiador evocou o contexto proibicionista e suas possíveis causas, que envolvem as matrizes religiosas protestantes, a preocupação das elites com os excessos de classes e “raças” vistas como inferiores e perigosas e o estímulo a determinados psicoativos em detrimento de outros, motivados por interesses econômicos.

Se essas razões são históricas, Guilherme ainda lembrou que: “é hora de começar a falar e discutir os tipos de serviços, os tipos de políticas de drogas, que têm que ser revolucionadas. Para debatermos políticas de drogas, é necessário fugir dos consensos e avaliar melhor a fonte de informações. É necessário entender de onde vêm os discursos que reproduzimos e a quem eles estão servindo”.

O Psicologia em Foco é uma atividade promovida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG).



– CRP PELO INTERIOR –