Criado o Núcleo Belo Horizonte e Região Metropolitana do Fórum de Medicalização

Belo Horizonte e Região Metropolitana agora fazem parte oficialmente do Fórum de Medicalização da Educação e da Sociedade. Durante o I Seminário sobre Medicalização – BH e Região Metropolitana, realizado na última quinta-feira (7/08), foi constituído o Núcleo da capital e região, integrado por pessoas interessadas na questão e representantes de diversas entidades.

Realizado em parceira com o Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de Minas Gerais (SINFARMIG), Sindicato dos Psicólogos do Estado de Minas Gerais (PSINDMG) e Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais (CRESSMG), o seminário contou com cerca de 110 participantes de diversas atuações profissionais. Durante a atividade, discutiu-se a mercantilização da saúde e a crescente medicalização na educação das crianças e adolescentes.

Com o tema “Medicalização na Educação e Sociedade”, a mesa da manhã contou a participação da médica pediatra e doutora em Medicina pela USP (Universidade de São Paulo), Maria Aparecida Moysés; da pedagoga, doutora em Sociologia pela USP e membro fundadora do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, Cecília Azevedo; tendo como debatedora a psicóloga e coordenadora de projetos psicossociais do Centro Psicopedagógico de Nova Lima, Nina Rosa Magnani.

A mesa teve início com a fala da psicóloga Nina Rosa Magnani, que destacou como os medicamentos têm sido usados na busca por uma padronização e normatização das diferenças e de comportamentos que fogem do controle da família, da escola e da sociedade. “A individualização e a patologização de questões de âmbito sociopolíticos ou educacionais têm produzido equívocos com graves consequências para as crianças e jovens”, afirma.

Segundo Maria Aparecida Moysés, os processos da medicalização da vida e da patologização da sociedade tem transformado artificialmente os problemas coletivos em individuais. A médica explica que uma das consequências da desigualdade social, é o ‘diferente’ ser tratado como patologia. “De repente o pensamento divergente se transforma no Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), o questionamento em Transtorno Opositor Desafiador”, questiona.

Moysés chama atenção para as consequências da mercantilização da saúde. “Se abafamos o questionamento, os sonhos e a fantasia, estamos construindo a impossibilidade de um futuro”, afirma. E alerta para os perigos da medicalização na educação de crianças e adolescentes: “Estamos construindo uma sociedade que nos deixa submissos, não questionadores e quimicamente controlados”.

Na mesma mesa, a pedagoga Cecília Azevedo trouxe dados sobre a educação brasileira e a distribuição de recursos públicos para a educação especial. De acordo com Azevedo, 90% do recurso público para educação especial são destinados para os casos de TDAH e dislexia. “Os cegos e surdos não têm muita vez nessa educação”, criticou.

A pedagoga se diz preocupada com a captura do ideário escolar pelas entidades interessadas na medicalização da educação, tais como empresas e laboratórios. Ela conta que essas entidades têm realizado palestras para os professores da rede pública, nas quais estes são treinados a identificar – em outras palavras, ‘diagnosticar’ – os transtornos. Azevedo garante que antes do remédio é preciso um trabalho com as famílias, com a escola, com a equipe de gestores e com os médicos. “Existe uma ideia de que um remédio vai resolver todas as questões”, critica, reforçando a importância de um trabalho coletivo e continuado na educação, que envolva os diversos profissionais.

No período da tarde, a mesa com o tema “Psiquiatrização da vida e o V Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM V)” teve a participação do psicólogo e mestre em Psicologia pela UFMG, Max Moreira; do psicólogo com formação em filosofia pela UFMG e diretor do PSINDMG, Roges Carvalho; e como mediador o psicólogo, mestre em Psicologia pela UFMG e coordenador do CERSAM Betim Central, Celso Renato.

Durante a mesa, foram levantadas as diferentes categorias de transtornos mentais e os critérios para diagnosticá-los, questionando-se o Manual publicado pela Associação Americana de Psiquiatria. Ainda durante a tarde, o farmacêutico, bioquímico e diretor do SINFARMIG, Rilke Novato proferiu uma palestra com o tema “A industrialização da medicalização e da sociedade”.

Novato apresentou a trajetória do medicamento nas políticas de saúde, na economia e no imaginário da população ocidental, discutindo o consumo excessivo no Brasil. O país é o quarto mercado de consumo de medicamentos no cenário mundial, movimentando cerca de R$62 bilhões por ano.

O farmacêutico destaca que a saúde tem se desenvolvido na mesma lógica do modelo econômico capitalista, com ênfase para o consumo e para a mercantilização. Rilke espera que a criação do Núcleo Belo Horizonte e Região Metropolitana do Fórum de Medicalização da Educação e da Sociedade contribua para que as entidades e os profissionais se irmanem em um propósito comum de uma sociedade mais justa e humana. “Que não tenhamos medo de fazer nenhum enfretamento, nem às grandes corporações”, almeja.

O Núcleo Belo Horizonte e Região Metropolitana é composto pelo SINFARMIG, PSINDMG, Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), CRP-MG, CRESS-MG, Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região (CRN9); Conselho Regional de Auto-regulamentação da Acupuntura de Minas Gerais (CRAEMG), Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Centro Psicopedagógico de Nova Lima e representante da Naturologia. A primeira reunião é aberta aos interessados e será realizada no dia 5 de setembro, às 19hs, na sede do CRN9 (Rua Maranhão, n310, 4º Andar, Santa Efigênia), em Belo Horizonte.

Veja AQUI outras fotos do I Seminário sobre Medicalização – BH e Região Metropolitana.



– CRP PELO INTERIOR –