16 abr CRP-MG apoia Associação de Usuários em relação à utilização dos leitos do Hospital Psiquiátrico Galba Veloso para atenção ao Covid-19
O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) apoia o posicionamento da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (Asussam) em relação à utilização dos leitos do Hospital Psiquiátrico Galba Veloso para atenção ao Covid-19.
Por meio de carta, a Associação reforça a defesa do tratamento em liberdade e afirma: “Estaremos à disposição para discutirmos, uma vez passada a pandemia, o fechamento permanente ou não do Hospital Psiquiátrico Galba Veloso, mas agora o contexto pede pela priorização do atendimento ao paciente com coronavírus. Dizer por nós, usuários dos serviços de saúde mental, que a manutenção desses leitos visa proteger aos nossos interesses e nossas demandas de saúde é um absurdo sem tamanho, inclusive por que historicamente lutamos pelo fim de tais instituições. Nosso desejo é pela vida e a vida agora demanda leitos para garantir o enfrentamento ao coronavírus”.
A carta, que também é assinada pelo CRP-MG, pode ser acessada, na íntegra aqui.
O Conselho também divulga junto à categoria texto redigido pela psiquiatra e militante da luta antimanicomial, Ana Marta Lobosque:
“É necessário pensar lucidamente a questão da disponibilidade do Hospital Galba Velloso para receber portadores da COVID, transferindo seus pacientes para outros espaços.
Em primeiro lugar, é fundamental informar às pessoas que o Galba dispõe apenas de 120 leitos, e o Raul Soares, de 76: ou seja, estes dois hospitais psiquiátricos, juntos, contam com apenas 200 leitos. Na verdade, a RAPS de Minas Gerais, ou seja, a rede de serviços abertos, atende 95% das pessoas em situação de crise em todo o Estado. Em Belo Horizonte, especialmente, os 14 CERSAMs atendem casos de crise aguda e grave, funcionando 24 horas, diariamente, e ofertando hospitalidade noturna quando necessário.
O que se deduz disso? O Hospital Galba Velloso não ocupa, em absoluto, um lugar de centralidade na atenção à saúde mental, nem na cidade nem no Estado. Seus pacientes, assim como os do Raul, poderiam perfeitamente ser atendidos nos CERSAMs e CAPS dos municípios mineiros – e, na verdade, estariam muito melhor se assim fosse, dado o valor inestimável do cuidado em liberdade.
Portanto, numa grave situação de pandemia, se o espaço público ocupado por um hospital de 120 leitos para pessoas em sofrimento mental (que podem com segurança ser transferidas para outros pontos de cuidado) oferta à cidade 200 leitos para acolher pacientes afetados pela COVID, qual o problema? Trata-se antes de uma solução!
A carta divulgada pela Associação dos Usuários de Saúde Mental de Minas Gerais – ASUSSAM – pronuncia-se, com clareza e justiça, de forma favorável a esta transferência, lembrando que, quando anunciada, apenas 47 pacientes estavam internados no Galba, havendo leitos vagos no Raul Soares (o número de leitos deste hospital foi aumentado para 104 após a desativação do Galba). Além, é claro, do já mencionado respaldo das RAPS.
Se os pacientes do Galba não foram transferidos com a delicadeza e o cuidado indispensáveis, se a FHEMIG não assumiu esta responsabilidade que evidentemente lhe cabe, esta é outra questão – uma questão importante e séria, sem dúvida, mas outra.
A todos aqueles que se encontram preocupados com o “fechamento do Galba”, sugiro que apoiem a luta antimanicomial, reivindicando que seja feita como se deve a transferência de cuidados dos pacientes.
Reivindicando, além disso, que os CAPS, CERSAMs e demais serviços substitutivos recebam de seus municípios e do Estado a atenção e os recursos necessários. Reivindicando que estes serviços possam tratar dignamente das pessoas em sofrimento mental. Reivindicando que o façam da forma que só os serviços substitutivos podem fazer – tecendo seus laços com o espaço social dos quais os privam todo e qualquer manicômio.
PELO CUIDADO EM LIBERDADE E PELA PROMOÇÃO DA CIDADANIA DAS PESSOAS EM SOFRIMENTO MENTAL
PELA PARCERIA DOS TRABALHADORES DE SAÚDE MENTAL COM TODOS OS TRABALHADORES DO SUS NO ENFRENTAMENTO DA COVID
PELO COMPROMISSO COM A SAÚDE DA POPULAÇÃO DE MINAS GERAIS”