CRP-MG divulga nota de repúdio à violência contra os povos originários brasileiros

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) divulga a nota de repúdio produzida pela Comissão Regional de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

“Nota de repúdio à violência contra os povos originários brasileiros

Nos últimos dias temos recebido notícias preocupantes sobre a ocorrência de graves atos de violência contra povos indígenas. São pessoas da etnia Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul que têm sido sistematicamente negligenciadas, perseguidas, impedidas de viver em suas terras e até assassinadas.

Mas essa violência não é recente. Os atos de violência contra os povos originários tiveram início há cerca de quinhentos anos com os primeiros etnocídios nas Américas e se estendem até os dias de hoje.

Vemos que não é apenas no Brasil que as populações politicamente minorizadas sofrem os efeitos mortíferos do estágio atual do neoliberalismo predador em escala mundial. Temos acompanhado na mídia o grande fluxo migratório de milhares de pessoas que, expulsas de seus países devastados por guerras externas e internas, quase sempre financiadas pelo capitalismo transnacionalizado, buscam refúgio principalmente em países da Europa tentando fugir da morte iminente nos conflitos armados. Falar de morte iminente não seria aqui mera retórica, pois ultimamente temos visto trágicos naufrágios de embarcações precárias transportando milhares de migrantes em busca de sobrevivência. Na última semana, a insana imagem do corpo sem vida de uma criança estendido nas areias de uma praia causou-nos inegável desolação e despertou a atenção, ainda que temporária, da grande mídia e até de chefes de Estado do mundo inteiro.

No cenário nacional, constatamos que as contínuas situações de extrema violência contra populações indígenas de várias etnias e povos tradicionais não recebe da grande mídia a mesma evidência que outros fatos de menor ou nenhuma importância, como a quantidade de carros que um colunável possui ou mesmo o último capítulo de uma novela. Assim, temos visto cada vez mais a pauperização, a intimidação, o cerceamento, a expulsão de suas terras e o genocídio das populações indígenas que restaram no país.

Não se trata aqui de estabelecer a primazia de um povo sobre outro e muito menos de eleger o que tenha mais ou menos direito de existir – se indígenas, afrodescendentes ou euro descendentes. Trata-se, sim, de criarmos condições para a coexistência de todos os povos, sem discriminações de caráter étnico, religioso, racial, de classe social ou de gênero.

O patrimônio que as tradições indígenas nos oferecem é de grande valor: a maneira de viver de forma auto sustentável que é condição sine qua non para a permanência da vida de sete bilhões de habitantes humanos, mais a flora e a fauna, no nosso planeta. É fundamental, urgente e inadiável que reconheçamos a propriedade dos povos originários em viver com qualidade, sem poluir o habitat e sem esgotar os recursos naturais disponíveis. É preciosa a vivência dos povos tradicionais brasileiros na relação de troca – não de dominação ou assujeitamento – que estabelecem com a Natureza.

Para pessoas como nós, detentoras de saberes científicos – dentre os quais os da Psicologia – este é um legado inestimável para a coexistência de forma harmoniosa com o meio ambiente que não só nos cerca mas também nos constitui de forma complexa, singular e diversa”.



– CRP PELO INTERIOR –