CRP-MG marca o 18 de maio por meio de debate on-line com psicólogas e usuária de saúde mental

“A nossa luta é pela transformação das relações entre a sociedade e a loucura. Lutamos pela mudança do modo de organização social que exclui e anula seres humanos. Lutamos por um outro mundo possível e necessário. Lutamos pela inclusão social, pela garantia de direitos, pela autonomia, pela reinserção social de pessoas com sofrimento mental, e por uma sociedade sem manicômios”. Dessa forma, a conselheira presidenta do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), Lourdes Machado, iniciou o evento on-line “A luta antimanicomial no nosso dia a dia: o que podemos aprender com o isolamento social em tempos de pandemia”, nesta quarta-feira, 20, nas plataformas de redes sociais do CRP-MG.

Foram convidadas para o encontro virtual, Cristiane Nogueira, conselheira e coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia, Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do CRP-MG; Laura Fusaro Camey, usuária dos serviços substitutivos do SUS-BH, atual vice-presidenta da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (Asussam), membra do Fórum Mineiro de Saúde Mental e conselheira municipal de saúde em Belo Horizonte; e Marta Elizabete de Souza, mestra em Medicina Social. Foi coordenadora de saúde mental da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, de 2004 a 2011.

Durante a abertura, a conselheira presidenta do CRP-MG ressaltou que a Psicologia vem sendo convocada a defender a política pública de saúde e segue reafirmando seu compromisso com a universalidade do SUS como resultado do processo democrático. Lourdes Machado dedicou o evento “ao nosso companheiro Marcus Vinícius de Oliveira, e à nossa grande companheira Rosimeire Silva, que não estão mais entre nós e deixaram um legado muito importante e bonito”. Antes de passar a palavra para as convidadas, ressaltou que em Minas Gerais a luta antimanicomial tem um traço singular que é a participação de usuárias, usuários, familiares, trabalhadoras e trabalhadores nos processos decisórios.

A primeira convidada a se apresentar foi a conselheira do CRP-MG, Cristiane Nogueira, que pontuou a necessidade permanente de marcar as razões do 18 de maio: “mais do que nunca, estamos sob a égide da ameaça de desconstrução, de retrocessos. Essa luta nunca foi tão atual”. Alertou ainda não ser possível olhar para o movimento da luta antimanicomial e acreditar que “o horror do manicômio foi vencido. Se esmorecemos, o risco do retrocesso aumenta”, e concluiu mostrando que a sociedade permanece tentando asilar as pessoas que julga anormais.

Para enfatizar a importância do protagonismo de usuárias e usuários de saúde mental, o evento contou com a participação de Laura Fusaro Camey, vice-presidenta da Asussam. Ela iniciou chamando a atenção para o fato do manicômio não ser somente um lugar, mas uma lógica, “assim como o território não é simbólico. Enquanto existir como lógica, vai existir como espaço físico. Vemos isso não só nos hospitais, comunidades terapêuticas, mas em instituições que vão para além da saúde mental: presídios e asilos, por exemplo”. Laura lamentou pelo Brasil ainda não ter superado o “lugar manicômio” em nenhum dos seus aspectos e convocou a todas: “se não entendermos a lógica manicomial na sua radicalidade, iremos continuar jogando as pessoas em algum lugar. Nós precisamos de mais Estado, de mais SUAS, de mais SUS. Mas o mais Estado, sem uma participação popular efetiva, sem a população ter acesso à informação que garanta a participação democrática, sem garantir o básico da democracia, corremos o risco de instituições como o SUS sofrerem processos terríveis de implosão completa”.

Para fechar as apresentações das convidadas, Lourdes Machado convidou a militante da luta antimanicomial, Marta Elizabete, que iniciou sua fala reafirmando ser fundamental garantir condições mínimas para as trabalhadoras e os trabalhadores da saúde mental: “não podemos, nem devemos abandonar os usuários. A valorização dos agentes comunitários em tempos de pandemia é ainda mais importante no momento no qual a política nacional de atenção à saúde sofre com os cortes de financiamento”. Marta foi enfática ao dizer que o Brasil ainda tem o Sistema Único de Saúde, uma fortaleza combalida. “Sem ele seria uma barbárie total no país. O SUS nunca foi tão valorizado, mas ao mesmo tempo totalmente subfinanciado. E nesse tempo de pandemia nós seguimos trabalhando muito enquanto luta”.

Na sequência, as participantes do evento responderam e comentaram as questões do público da transmissão on-line.

Assista o vídeo completo:

 

 

 

 

 



– CRP PELO INTERIOR –