01 nov Cuidado respeitoso e acolhedor em saúde mental é tema de live do CRP-MG em virtude do “10 de outubro”
Data remete à reflexões sobre o que seja saúde mental na contemporaneidade
A série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro trouxe para a live do mês de outubro o tema “Saúde mental: um direito universal”. A qualificação do diálogo, que ressaltou a obrigatoriedade do cuidado respeito às(aos) usuárias(os) dos serviços substitutivos a partir não somente das(os) trabalhadoras(os) como de toda a sociedade, se deu a partir das próprias convidadas, que representaram os três grandes eixos do tema: quem possui sofrimento mental, quem atua nas políticas públicas relacionadas e quem está à frente, na gestão geral.
O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), ao propor a atividade, buscou valorizar a prática psicológica como instrumento de garantia de direitos fundamentais, de enfrentamento à violência e às condições objetivas e subjetivas que causam danos psíquicos.
Participaram da conversa, a usuária dos serviços substitutivos do SUS-BH, Laura Fusaro Camey, atual vice-presidenta da Asussam-MG e membro do Fórum Mineiro de Saúde Mental, ambos núcleos da RENILA; a psicóloga, Soraia Marcos, trabalhadora da RAPS BH; e Taynara de Paula, também psicóloga e atualmente coordenadora Estadual de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais. A mediação foi realizada pela conselheira secretária e integrante da Comissão de Orientação em Psicologia, Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do CRP-MG, Paula Ângela de Paula.
Paula de Paula explicou que o objetivo foi marcar o dia 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental. “A data pretende dar visibilidade ao tema e identificá-lo como uma causa comum a todos os povos, ultrapassando barreiras geográficas, políticas e socioeconômicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a saúde mental uma prioridade e se concordarmos que se trata de um um direito humano universal, precisamos analisar as consequências do imperialismo, do neocolonialismo contemporâneo e pensá-la interseccionalmente com os marcadores de classe, raça e gênero”, assinalou a mediadora.
“No Brasil nós reafirmamos a relevância da saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS) quando aderimos à portaria do Ministério da Saúde 1720/94, dois anos após o lançamento do 10 de outubro e, curiosamente, somente em 2001 instituímos uma política de saúde mental antimanicomial. Mas precisamos saber que ela foi assinada, mas está em permanente disputa”, analisou.
Ao passar a palavra para as convidadas, a conselheira do CRP-MG ainda pontuou que o tema lançado pela OMS em 2023 “A saúde mental um direito universal” remete, no Brasil, ao trabalho desenvolvido pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que oferece acolhimento e tratamento no contexto dos cuidados primários em saúde e à construção de respostas respeitosas às diversas manifestações de fragilidades psíquicas das pessoas.
Confira a seguir trechos das apresentações e assista abaixo a transmissão na íntegra:
“Para mim, usuária da rede de saúde mental, o 10 de outubro e o termo ‘saúde mental’ não significam nada porque a concepção de saúde que temos no Brasil não é compatível com a existência de pessoas como eu. Ela coloca que estar saudável é parar de delirar, de ouvir vozes, de chorar, de ficar deprimida, de ficar ansiosa, de usar droga. Nesta ideia do perfeito bem-estar físico e mental, me desculpem, mas prefiro ficar doente, pois no mundo que vivemos isso não parece plausível, nem razoável. É muito para demandar de um sujeito. Eu sou o meu melhor quando estou em um Cersam, em um centro de convivência, quando estou perto do meu povo que delira, que usa droga, que deprime, que chora.”
Laura Fusaro Camey
“A equidade é um dos princípios que nossa rede de saúde mental, dentro da Secretaria de Saúde do Estado, tem como maior prioridade. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são nosso carro chefe. Nosso sistema de saúde, nossas políticas públicas são fortes, pois foram construídas coletivamente, em consonância com a reforma psiquiátrica, o que contribui para a redução dos riscos em caso de sofrimento mental. Mesmo assim, sabemos que mesmo sendo uma rede forte, ela apresenta fragilidades atualmente. Precisamos ampliá-la e qualificá-la ainda mais.”
Taynara de Paula
“Não é possível falar de saúde mental sem estar atravessada pelo machismo, pelo sexismo, pelas intolerâncias religiosas, pela desigualdade racial e econômica. Precisamos falar de direitos básicos quando falamos em saúde mental: do direito a ter documentos, à moradia, à cidadania. A luta antimanicomial se faz se for democrática, antiracista, antiprisional e antifacista. E, enquanto trabalhadora de saúde mental, cada vez mais tenho certeza que o cuidado só é possível quando nos colocamos ao lado da usuária e do usuário, de proporcionar espaços de escuta valorizando o território desse sujeito.”
Soraia Marcos
Série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro – O evento é realizado mensalmente, por meio da Comissão de Orientação em Psicologia, Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas. A compreensão é de que o diálogo sobre saúde mental precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades.