04 abr Debate sobre mulheres em privação de liberdade concluiu edições especiais do Psicologia em Foco no mês de março
Até 2016, a população penitenciária feminina no Brasil era de 40 mil mulheres. Já o número de homens presos chegava a 568 mil. No entanto, de 2000 a 2014 o número de mulheres presas aumentou em vertiginosos 567%, enquanto o número de homens, no mesmo período, aumentou 220%.
A psicóloga e doutoranda em Psicologia Social, Naiara Silva, partiu deste cenário para falar sobre “A (in)visibilidade das mulheres em privação de liberdade e as meninas no socioeducativo”, no Psicologia em Foco realizado no dia 28/3, na sede do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG). Assista o evento na íntegra.
Segundo Naiara, o fato do número de mulheres presas ser menor do que o de homens pode ser um dos fatores que concorrem para a invisibilidade do tema na sociedade e nos estudos acadêmicos. Pesquisadora sobre o assunto, Naiara parte da Criminologia Crítica e afirma que o direito penal não foi pensado pelas mulheres, nem para as mulheres.
“As prisões não são preparadas para receber nenhum ser humano, mas no que tange às mulheres o cenário é mais caótico. Muitos presídios femininos não têm vaso sanitário, têm o mictório ou um buraco no chão. Falta material de higiene pessoal. Há casos em que ficam menstruadas e precisam usar papel ou miolo de pão. É uma sobreposição histórica, as mulheres ficam com o que sobra”, denunciou.
Naiara Silva realçou que 69% das mulheres estão presas por causa do tráfico de drogas, onde desempenham as funções de maior risco. “Poucas mulheres chegam ao posto de gerência. A função das mulheres é a de serem presas, porque estão nas posições mais vulneráveis. Estão nas “bocas”, transportando drogas no próprio corpo, levando para os presídios”, analisou.
Adolescentes – A psicóloga Michele Caldeira compartilhou informações que tem mapeado para sua pesquisa de doutorado sobre meninas que estão em cumprimento da medida socioeducativa de internação.
“Percebo um ciclo de descaso das políticas públicas. A maioria das adolescentes que estão cumprindo a medida vivenciaram situações de abandono, violência familiar. Cerca de 25% das mulheres presas no Brasil também cumpriram essa medida. É um ciclo perverso e temos que pensar como temos falhado enquanto sociedade. E trata-se de público bem definido: mulheres, negras e pobres”, afirmou.
Michele Caldeira realçou que a adolescente que comete ato infracional rompe também com a docilidade que se atribui às mulheres. Assim, sofrem com a ruptura de vínculos sociais e familiares. Outro aspecto realçado pela psicóloga é a postura de parte dos profissionais que atuam no sistema socioeducativo. “Ouvi falas de que as mulheres são satânicas, frias, que é mais difícil trabalhar com elas do que com os homens”, relatou.
O debate foi mediado pela integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero do CRP-MG, Jeanyce Araújo. No mês de março, o Psicologia em Foco debateu temas exclusivamente relacionados aos direitos das mulheres e as mesas foram coordenadas pela Comissão.