03 mar Encontro das(os) psicólogas(os) no SUAS discutiu desafios do cotidiano de trabalho

O II Encontro Mineiro das(os) Psicólogas(os) no SUAS aconteceu na última sexta-feira, 26/2, e chamou atenção pela grande adesão de profissionais, principalmente psicólogas e psicólogos, de várias cidades de Minas e até da Bahia e do Espírito Santo. O encontro foi realizado na PUC, em Belo Horizonte, e integra a agenda de eventos preparatórios para o 9° Congresso Regional de Psicologia (Corep), que acontecerá nos dias 29, 30 de abril e 1º de maio de 2016.

A Comissão de Psicologia e Política de Assistência Social do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu uma abertura diferente e utilizou megafones para mobilizar os participantes. Por meio desse recurso, representantes de movimentos e coletivos ligados à Psicologia agradeceram a presença do público e fizeram convites para que os profissionais participem de espaços políticos.

Após a abertura, Maria Julia Andrade Vale, membro da Comissão, explicou que o evento dá continuidade à proposta do primeiro encontro: proporcionar a troca de experiências e aprendizados entre os profissionais que atuam no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A conselheira do CRP-MG, Deborah Akerman, realçou a grande demanda por participação no evento que chegou até o Conselho. “Se temos muitos participantes aqui é porque também temos grandes responsabilidades e a necessidade de psicólogas e psicólogos do SUAS de conversar, entender e qualificar cada vez mais a atuação no Sistema”, avaliou. A conselheira também apresentou o perfil de inscritos no Encontro: 399 psicólogas(os), 48 estudantes, 21 profissionais de Serviço Social e 22 trabalhadores de outras áreas.

O II Encontro também contou com a participação da subsecretária Estadual de Assistência Social da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social de Minas Gerais, Simone Albuquerque. A subsecretária parabenizou a categoria das(dos) psicólogas(os) pelas contribuições à sociedade brasileira. “A profissão trouxe, particularmente para as políticas de saúde e de assistência social, uma contribuição libertadora. Basta percorrer a história da luta antimanicomial que permitiu o fechamento dos manicômios, uma grande conquista”, avaliou. Simone também destacou a importância do trabalho interdisciplinar no SUAS.  “A interdisciplinaridade é entendida como um caminho assertivo para superar a fragmentação e a hierarquização dos saberes e das práticas na área da assistência social. Além disso, é uma possibilidade de compreensão do mundo”, comentou.

A psicóloga e autora do blog Psicologia no SUAS, Rozana Maria da Fonseca, se formou em Psicologia na cidade de Barbacena (MG), em 2008, e posteriormente foi para a região sul da Bahia para atuar no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). No dia-a-dia de trabalho, Rozana enfrentava muitas dúvidas e decidiu criar um blog para reunir todos os materiais de estudo que pudessem ajudá-la. O blog também se tornou um importante instrumento de contato com outros profissionais. “As pessoas me perguntavam coisas e eu ia atrás para responder. Não ficava esperando ninguém me ensinar. Fui aprendendo, recorrendo à Psicologia e foi dessa forma que adquiri mais conhecimento”, relatou.

A blogueira incentivou os participantes, especialmente as(os) psicólogas(os), a mudarem a forma como normalmente encaram o trabalho no SUAS. “Temos [psicólogas e psicólogos] que parar de falar que caímos de paraquedas no SUAS ou no local de trabalho. Somos da Psicologia e sabemos que palavras não são só palavras. Isso trás um significado e uma postura dentro dos serviços bem relevantes e que estão nos tornando paralisados”, afirmou. Rozana também definiu como artificial o discurso de alguns profissionais da Psicologia de que não estão preparados para atuar no SUAS. “Ouvimos as pessoas dizerem que não se formaram para estar naquele lugar e não reconhecem o que viram na faculdade. Temos que entender que não encontraremos uma formação que possa nos dizer o que irá acontecer nos próximos 10 anos. O que temos que fazer é nos encontrarmos e nos especializarmos naquele  trabalho”, declarou. Rozana também tratou da importância de que os profissionais se proponham a fazer bons questionamentos. “Buscamos sempre respostas, mas a nossa disposição de fazer perguntas não existe”, disse.

Oficinas – Em consonância com a proposta de promover a troca de experiências entre os profissionais, a segunda parte do Encontro foi organizada em dez oficinas que abordaram temas variados, como questão de gênero e matricialidade sociofamiliar, proteção socioassistencial no meio rural e elaboração de documentos no SUAS. Os grupos utilizaram estratégias variadas para compartilhar os resultados das oficinas. Houve apresentação de cartazes, teatro e recital de poesia.

Ao final das apresentações, a psicóloga Rozana da Fonseca debateu os resultados. Um dos aspectos que Rozana analisou é a relação dos profissionais com a população. Segundo ela, é preciso tomar cuidado para que não seja adotada uma postura de ameaça ou de permanente suspeita em relação às famílias atendidas nas políticas de assistência. No caso dos atendimentos em meio rural, a psicóloga também destacou que muitas vezes os profissionais partem de uma lógica que valoriza o urbano e podem não dar o reconhecimento necessário a elementos do contexto rural.

Rozana também fez considerações sobre o que distancia a teoria da prática. Para a psicóloga, o que afasta essas duas vertentes é a vaidade. “A vaidade é um mal porque faz a gente querer dominar o tempo inteiro, manter nossa posição, sendo que não somos nada”.  Nesse contexto, muitos profissionais podem se abster de defender determinadas posições por temerem represálias das chefias, mas para Rozana os trabalhadores não podem se esquivar dos debates e precisam defender os princípios alinhados com o SUAS.

Vídeo – A gravação dos debates realizados na parte da manhã e a apresentação das oficinas temáticas, seguida pela avaliação final, está disponível na internet. Para acessá-la, clique aqui.

Poesia – O resultado da Oficina Proteção Socioassistencial no Meio Rural foi apresentado em em forma de poesia. Para acessar o texto, clique aqui.

Fotos do encontro estão disponíveis na página do CRP-MG no Facebook. Para ver, clique aqui.