Entrevista: Henrique Galhano fala sobre contribuição da Psicologia no processo de acolhimento, integração e apoio ao sujeito migrante

Psicólogo também dá mais informações sobre o 2º Seminário de Psicologia e Migração, que está com inscrições abertas

A migração faz parte da nossa história como sociedade e possui características típicas do momento atual. Para contribuir com essa reflexão, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoverá no dia 8 de outubro, o 2º Seminário de Psicologia e Migração: Conectando Saberes. A atividade será realizada no formato presencial e abarcará temas como mobilidade internacional, subjetividade, deslocamentos ambientais, emergências, desastres e decolonialismo.

Para falar mais sobre o encontro, entrevistamos o psicólogo e coordenador da Comissão de Orientação em Migração, Refúgio, Tráfico de Pessoas, e Subjetividade do CRP-MG, Henrique Galhano.

Quais suas expectativas para a 2ª edição do Seminário de Psicologia e Migração? Pode nos falar sobre os motivos que levaram aos temas que serão abordados nas três mesas?

As nossas expectativas são as melhores. Acreditamos que aproximar comunidade acadêmica, pesquisadoras(es) e psicólogas(os) dos desafios que os fenômenos migratórios nos colocam é muito importante. Fizemos o primeiro seminário on-line e tivemos uma receptividade muito boa e agora esperamos, no 2º seminário, engajar estudantes de Psicologia e as(os) psicólogas(os) que atuam, sobretudo em Belo Horizonte, com o tema. Discutiremos mobilidade humana e subjetividades, pensar esse deslocamento de migrantes de um lado para o outro e como isso reverbera nos processos subjetivos dessas pessoas. Faremos também uma discussão sobre deslocamento interno de atingidos por empreendimentos ou por crimes e desastres ambientais. Na terceira mesa, propomos fazer uma interseccionalidade entre a migração e o debate de gênero, é muito importante pensar essa feminização da migração, trazer esse olhar a partir da ótica do gênero, pensando sempre no que as mulheres migrantes do Sul Global trazem a respeito dessa perspectiva da migração.

É indissociável, ao se falar sobre migração, questões que envolvem práticas xenofóbicas e preconceituosas contra os sujeitos migrantes. Como pensar uma prática psi voltada a uma plena assistência, frente a tantas singularidades?

As práticas xenófobas e racistas são ligadas à migração e pretendemos neste Seminário trazer a discussão da racialização da migração, entender a xenofobia e o preconceito como fatores de sofrimento psíquico para as pessoas migrantes. Pensar a prática da Psicologia como antirracista, antixenófoba, para poder compreender as singularidades que cada sujeito traz em seu fluxo migratório e também em suas experiências e trajetória de vida.

A falta de acesso do sujeito migrante a serviços como educação, saúde, emprego e moradia pode desencadear transtornos, não apenas físicos, mas também intelectuais e sobretudo psíquicos. Como a Psicologia pode contribuir em seus diversos campos de atuação para a diminuição do sofrimento do indivíduo migrante?

Um dos maiores empregadores da(o) profissional de Psicologia é o campo das políticas públicas. Engajar psicólogas(os) no entendimento do fenômeno migratório para permitir que os migrantes, enquanto sujeitos de direitos, possam acessar e permanecer nestes equipamentos é de suma importância. Entender que o acesso às políticas públicas de educação, saúde, emprego e moradia são direitos básicos e fundamentais. O principal objetivo da migração é buscar melhores condições de vida e quando o acesso a essas condições é negligenciado, gera sofrimento. É importante também que as(os) profissionais que atuam nas políticas públicas tenham essa consciência de modo a fazerem um atendimento de forma singular, entendendo as peculiaridades da migração, como forma de ouvir melhor este sujeito.

Não é incomum a relativização da sociedade brasileira a crimes praticados contra sujeitos migrantes. Existe no campo da Psicologia alguma explicação para tal fenômeno? Por quais motivos não execramos crimes hediondos contra essa população?

A relativização a crimes praticados contra os sujeitos migrantes vem de uma lógica de que a sociedade brasileira recebe, mas não acolhe, por isso chamamos de “mito da sociedade acolhedora”. É importante pensar como a Psicologia pode atuar para promover direitos dessas pessoas migrantes. Muitas vezes são vítimas de crimes, mas não se sentem seguras para denunciar com medo de represálias ou por falta de conhecimento dos seus direitos. O campo de atuação da Psicologia seria trabalhar esse processo junto à comunidade e também na sensibilização para uma melhor escuta sobre as denúncias de crimes praticados contra essas pessoas.

As vagas para participação no seminário são limitadas e as inscrições já estão abertas em: bit.ly/semináriomigração.

Agenda

2º Seminário Psicologia e Migração: Conectando Saberes
Data: 8 de outubro de 2022
Formato: Presencial
Local: PUC Minas Praça da Liberdade – Rua Sergipe, 790, Funcionários, Belo Horizonte/MG
Inscrições gratuitas e disponíveis em: bit.ly/semináriomigração
Dúvidas: escreva para evento@crp04.org.br

 



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