Evento aborda a saúde mental de psicólogas(os) na pandemia

Conversa tratou dos principais sentimentos da categoria e mostrou possibilidades para o momento

Durante toda a pandemia, psicólogas(os) foram acionadas(os) para atender diferentes demandas de pessoas que estavam – e ainda seguem – nesse momento conturbado. O aumento da procura e do trabalho trazem consequências para a atuação da categoria, que também está vivendo o período e precisa se manter forte para continuar o trabalho. Pensando nisso, no dia 29/6, terça-feira, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou, como parte da iniciativa Saúde Mental de Janeiro a Janeiro, a live “Trabalho, Pandemia e Saúde Mental: como somos afetadas(os)?”.

Confira na íntegra:

A presidenta do CRP-MG, Lourdes Machado, mediou o debate. Citando alguns dados, como o de que profissionais de saúde apresentam três vezes mais chances de contrair a Covid-19, Lourdes falou das angústias dessas(es) trabalhadoras(es). “As pessoas saem para trabalhar deixando pais e mães idosas, filhos e não sabem como voltar”, aponta. Ela também fala da falta de Equipamentos de Proteção de Individual em alguns espaços, como no Sistema Prisional.

A pós-doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal de Uberlândia, Maristela Pereira, abordou as mudanças das rotinas com o isolamento prolongado, trazendo, principalmente, desafios do trabalho remoto. Para ela, alguns dos obstáculos são: aprender a usar várias tecnologias em um período muito curto de tempo, a perda das fronteiras entre o tempo do trabalho e o tempo do descanso, as constantes interrupções, a incorporação de novas demandas e o convívio com a família. Maristela também pontua a diferença marcante de gênero no que diz respeito às responsabilidades de homens e mulheres nesse tempo pandêmico. “As tarefas domésticas e de cuidados com outras pessoas, que majoritariamente, já eram assumidas por nós, mulheres, aumentaram ainda mais nesse momento”, afirma.

Somadas a essas questões de trabalho, há as angústias que a pandemia provoca. Além do medo de contaminar pessoas queridas, Maristela aponta para a dor de perder familiares e amigos próximos e a impossibilidade de se despedir deles, junto com a revolta de que essas mortes poderiam ser evitadas. “Isso nos vai impactando de formas diversas. São frequentes as queixas de problemas para dormir, de ganho ou perda significativa de peso, crises de ansiedade que se surgiram na quarentena, de que a angústia está insuportável, sentimentos de irritabilidade, intensificação de problemas que já existiam antes”, comenta.

Para isso, ela fala da necessidade de lutar por políticas públicas que garantam nossos direitos, pois isso é garantir saúde mental. “Precisamos mudar o nosso pensamento individualista e começar a agir coletivamente, só assim é possível se fortalecer como grupo e mantermos a esperanças para superarmos esse momento tão difícil”, propõe.

A conversa também teve a presença da coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG, Thalita Rodrigues. Em sua fala, Thalita falou como o racismo tem se configurado na pandemia. “O racismo é um marcador que vai determinar as possibilidades de maior ou menor enfrentamento à pandemia. As populações que têm sido mais afetadas negativamente com a pandemia são a negra e a indígena”, explica.

A psicóloga atua na área clínica e conta sobre uma dificuldade no atendimento. Ela fala do sofrimento de profissionais em perceber que as(os) clientes estão adoecendo mais. Um desafio que, para ela, necessita que a categoria doe sua energia para a pessoa que está desanimada. “Mas onde que estamos buscando nossa energia e esperança, onde estamos fortalecendo as nossas subjetividades para dar conta de nossos trabalhos?”, questiona.

Assim, saídas para essa situação são fundamentais. Ela comenta sobre a importância de criar rede de apoios e diálogos, como uma forma de a categoria lidar com o que está vivenciando, um momento que ela entende ser de estresse, incertezas, angústias e lutos.



– CRP PELO INTERIOR –