25 ago Exibição especial da peça “Nos porões da loucura” promove debate sobre práticas manicomiais
Os 256 lugares do Teatro Marília, em Belo Horizonte, ficaram completamente ocupados na última segunda-feira (22/8) para a sessão especial da peça “Nos porões da loucura” promovida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG). A atividade, aberta e gratuita para toda a população, integra a agenda de eventos em comemoração ao Dia Nacional da(o) Psicóloga(o), celebrado em 27 de agosto.
O espetáculo é baseado no livro homônimo de Hiram Firmino e trata das violações cometidas no Hospital Colônia de Barbacena, um manicômio onde aproximadamente 60 mil pessoas morreram. Na peça são revelados aspectos como abandono, segregação e violência, que somados a interesses políticos e econômicos, compõem um momento trágico de nossa história.
Após a apresentação, foi realizado um debate que contou com a participação do trabalhador da rede de saúde mental de Belo Horizonte e membro do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Diego Pastana, e do diretor da peça, Luiz Paixão. A conversa foi mediada pelo vice-presidente do CRP-MG, Ricardo Moretzsohn.
Ricardo destacou que o CRP-MG viu na exibição gratuita da peça uma forma de homenagear as(os) profissionais de Psicologia, uma vez que psicólogas(os) desempenharam um papel importante na luta antimanicomial. Ele também chamou atenção para práticas que precisam ser atentamente observadas pela categoria: “há anos que a Psicologia tem atuado pela desconstrução dos manicômios. Avançamos um pouco no sentido do aprisionamento físico, mas hoje vivemos um aprisionamento tão violento quanto, que é o químico, a medicalização da vida. Hoje a criança não pode ser ‘levada’, que é medicalizada, há pílulas para a felicidade, para andar e dormir”, alertou.
O diretor Luiz Paixão contou que ao ser convidado para escrever e dirigir a peça se preocupou em extrapolar aspectos que apenas despertassem emoção no público. “Encarar um trabalho sobre o ‘Porões da Loucura’ me assustou muito no início, porque seria fácil fazer um espetáculo emocional, que todo mundo assistisse, se revoltasse e ficasse por isso mesmo. Acho que isso é pouco para o teatro, o teatro tem a função de provocar reflexão no público”, relatou. “Esse não é um espetáculo sobre a loucura, é sobre a degradação humana que tem na loucura a sua justificativa para uma série de conchavos políticos, falsidades morais, interesses financeiros, econômicos. Isso que a gente tentou trazer para o espetáculo”, completou o diretor.
O representante do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Diego Pastana, avaliou que a peça cumpre um papel importante de relembrar as práticas extremamente violentas utilizadas no manicômio de Barbacena e realçou que, para os membros do Fórum, além do espaço físico institucional é importante refletir sobre práticas manicomiais, que podem ocorrer mesmo fora do ambiente hospitalar. “Se a gente não toma cuidado, desenvolve mais práticas manicomiais do que emancipadoras. Precisamos ficar atentos às nossas práticas”, argumentou. Nesse contexto, o psicólogo destacou a importância de se enfrentar todas as formas de tratamento que impliquem em segregação.
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