Genocídio da juventude negra é tema de debate no CRP-MG

Hoje não é exatamente a data de uma comemoração, o 13 de maio. É, na verdade, sempre tempo de luta, de marcar a importância e a relevância desse debate, que cabe para todos nós”. Com esta fala, a psicóloga Joanna Ladeira, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia –Minas Gerais (CRP-MG) e diretora de projeto e pesquisa da ONG Pakto, abriu o debate “Genocídio da juventude negra: a realidade que não é dita”, do ciclo de eventos Psicologia em Foco. O evento ocorreu na sede do CRP-MG, em Belo Horizonte, na noite desta quarta-feira (13/5). Clique aqui para ver as fotos do evento.

O primeiro convidado a se apresentar foi o graduando em Ciências Sociais pela PUC Minas, Roberto Raimundo, integrante do Fórum das Juventudes da Grande BH e criador do coletivo “Hip Hop Chama”.  Ele iniciou afirmando que a juventude negra sempre esteve à margem nas politicas públicas, que trata-se de pessoas que não são reconhecidas pelo Estado como sujeito de direito.

Ele relatou diversas experiências de usar a música como espaço de diálogo e protesto, no caso pelos estilos rap e hip hop. “Esse som mostra como os jovens negros, pobres e favelados são vítimas. A música é muito importante para nós, pois por meio dela politizamos nossa discussão e tentamos dar visibilidade ao que acontece na periferia”, contou Roberto.

Por que não se avança? – Em seguida a psicóloga Daniela Tiffany Prado de Carvalho, diretora do Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional (PrEsp) da Secretaria de Estado da Defesa Social de Minas Gerais (SEDS) fez sua abordagem a partir da pergunta “é importante entendermos que depois de 130 anos de abolição, a gente conseguiria de alguma forma avançar. Mas por que não avançamos?”.

Segundo ela o racismo se reatualiza e se reinventa cotidianamente quando a sociedade se nega a debatê-lo. “Vemos isso a todo momento como, quando deparamos com o possível retrocesso da redução da maioridade penal. Temos o estatuto da criança e do adolescente que se não é perfeito, é extremamente denso, propositivo, tanto na profissão, como também na responsabilização e na punição. E essa é uma questão muito importante porque ela se liga ao genocídio da juventude negra”, disse a psicóloga.

“Temos de fato, uma permissão de um extermínio dessa juventude que precisa ser discutido. Enquanto antecipamos uma lógica de encarcerar esses meninos vemos também a exigência trabalhista do atestado de antecedência criminal. Esses meninos não conseguem se reintegrar à sociedade”, disse ela.
A psicóloga enumerou também como fatores que contribuem para o genocídio da juventude negra, os traumas do encarceramento, a perspectiva de vida restrita à possibilidade do óbito que os levam a querer serem protagonistas da própria morte, os problemas de aprendizado ou de comportamento na escola, o abandono da família, a questão de masculinidade e rivalidade, e a própria “política pública de extermínio desses jovens negros e pobres”.

Daniela Tiffany concluiu dizendo que “tudo está muito ligado com o racismo ou elemento suspeito. Eu autorizo o Estado a ter uma força coercitiva contra o elemento suspeito e o elemento suspeito está muito bem demarcado: é o sujeito negro. Depois a gente vai ver se o que estava no bolso era um celular ou uma arma. Mas por via das dúvidas, eu atiro antes. Então, a gente precisa entender isso. Há políticas pra juventude, mas com investimentos muito ineficientes. Além disso, essas políticas devem estar muito mais descoladas da segurança pública e muito mais dentro da cultura, da educação, de outras áreas”.



– CRP PELO INTERIOR –