II Seminário Autismo e Políticas Públicas promove intercâmbio de experiências

Dois de abril é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que haja 70 milhões de pessoas com autismo no mundo, sendo dois milhões somente no Brasil. Os números são expressivos e o tema merece destaque na pauta das políticas públicas. Por essas razões, Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) e Prefeitura de Contagem realizaram, nesta quarta e quinta-feira (25 e 26/3), o II Seminário Autismo e Políticas Públicas com a participação de 350 profissionais da área de saúde, no auditório da PUC Minas – Barreiro, instituição apoiadora do evento. Clique aqui para ver as fotos do Seminário.

“Tivemos aqui representados cerca de 50 municípios com participações especiais de profissionais dos estados de São Paulo e Mato Grosso. Foi um debate muito rico, que mobilizou não só psicólogos como fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Contamos ainda com a presença da integrante da Coordenação de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, Cristina Gusman”, explicou o conselheiro e representante da CRP-MG,  André Amorim.

Segundo ele, o Seminário teve como objetivos o intercâmbio de experiências profissionais fortalecendo o conhecimento e ampliando o saber da atuação profissional e o debate em torno das politicas publicas dirigidas a autistas e familiares.

Abertura – A cerimônia de abertura contou com representantes  das diversas instituições e grupos relacionados ao autismo. André Amorim iniciou oficialmente os trabalhos dizendo que o Conselho é uma entidade que defende espaços de discussão cada vez mais democráticos. “Somos uma autarquia pública. Fazemos um debate com a sociedade e é a partir desses eventos e de outras estratégias que ficamos mais próximos das famílias, do controle social e das entidades que estão dispostas a trazer estas discussões sobre o autismo, das políticas públicas”, disse pouco antes de anunciar a conferência “Diretrizes da Política Nacional para o cuidado à pessoa com autismo e suas famílias”.

A convidada Ilana Katz, doutora em psicologia e educação pela Fe/USP e uma das articuladoras do Movimento da Psicanálise, Autismo e Saúde Pública, junto ao Ministério da Saúde, conduziu o tema inaugural do Seminário. Ela apresentou para conhecimento e reflexão um comparativo discutindo convergências e divergências dos documentos do Ministério da Saúde, divulgados em 2013 “Linha de cuidados para atenção das pessoas com transtorno de espectro autista e suas famílias na rede de atenção psicossocial” e “Diretrizes de atuação à reabilitação de pessoas com transtorno de espectro autista”.

Teorias – Ao abrir o segundo dia do Seminário, Paula Pimenta, doutora em Psicologia, professora de Psicologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e integrante da comissão organizadora do evento, disse que “a riqueza” do debate que logo iria iniciar sob o tema “As abordagens teóricas no tratamento à pessoa com autismo” era em função da apresentação das diversas abordagens do autismo, mostrando “como se faz”.

A psicóloga clínica com formação em Psicoterapia Cognitiva pelo Instituto Mineiro de Terapia Cognitiva (IMTC) e mestranda pelo programa de pós graduação em Ciências da Saúde do IPSEMG, Lidia Prata foi a primeira a apresentar sua abordagem, que é baseada na “Teoria da Mente”. Por meio dela, propõe identificar emoções, entender os diferentes pensamentos, usar verbos mentais, pensar sobre o que o outro está pensando e prever seu comportamento.

Marcus Vinícius Garcia, psicólogo clínico, especialista em Análise do Comportamento Aplicada, mestrando em Psicologia do Desenvolvimento (UFMG) falou em seguida sob a perspectiva de um profissional que “estudou análise de comportamento”. Para ele, é preciso, antes de tudo, refinar a escuta de quem convive com o autista. No caso do profissional que o acompanha, este deve fazer uma avaliação funcional do comportamento com métodos indiretos, descritivos e experimentais.

Na sequência, o psiquiatra Geral e infanto-juvenil da rede pública de saúde mental na cidade de Mariana, especialista em Psicoterapia Humanista-Abordagem Centrada na Pessoa e mestrando em Saúde Coletiva: Políticas e Gestão em Saúde, Rodrigo D’Angellis, fez uma abordagem humanista do autismo pontuando uma questão que chamou a atenção de todo o debate: a necessidade de capacitação permanente dos profissionais que lidam com o autista.

Tânia Ferreira, psicóloga, psicanalista, mestre e doutora em Educação, pós doutorada em Psicologia, pesquisadora CAPES/UFMG/PNPD, encerrou as falas antes do debate abordando as questões da psicanálise que “não está interessada no transtorno, mas sim no transtornado”. Ela encerrou dizendo que é preciso considerar quatro elementos como “pontos de sofrimento do autista”: voz, olhar, o outro e objeto.

Apresentações de experiências – Na última mesa do II Seminário Autismo e Políticas Públicas foram apresentadas experiências de tratamento nas cidades com as convidadas: Janaína Sérvulo, psicóloga profissional da rede de saúde mental de Contagem/MG; Christine Magalhães,  artista Plástica , arteterapeuta,  coordenadora do CAPSi de Ouro Preto, membro do GT de saúde mental da criança e do adolescente; e Gabriela Duarte, terapeuta ocupacional,  profissional do Centro Especializado em Reabilitação – CER II, Itabirito/MG. Coordenou os trabalhos Maria Helena Roscoe, psiquiatra, mãe de rapazes gêmeos, ambos com autismo, e Diretora Técnica da Associação Brasileira de Autismo (Abra).

Histórico do Seminário – Em 2012, o CRP-MG promoveu a primeira edição em parceria com o município de Betim (Cersami – 1° CAPSi do Brasil). Vale ressaltar que o Centro de Atenção Psicossocial da Infância e da Adolescência (CAPSi) é um dispositivo de cuidado para pessoas com espectro autista.

No planejamento do evento, a Comissão Psicologia da Saúde do CRP-MG definiu a realização de seminários itinerantes em municípios mineiros que possuam histórico de saúde mental voltadas para a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial, tendo como parâmetro a “Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde das Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo e suas Famílias no Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Em todas as edições há o envolvimento de instituições formadoras e destaca-se a importância do trabalho intersetorial (psicólogos, educadores, assistentes sociais, entre outras profissões) e as redes locais de cuidado.



– CRP PELO INTERIOR –