Integrantes da Ulapsi refletem sobre envolvimento da Psicologia com a realidade latino-americana

A segunda mesa do encontro “Diálogos Latino-Americanos”, promovido no CRP-MG no dia 12/11, contou com a contribuição dos coordenadores da União Latino-Americana de Entidades da Psicologia (Ulapsi).

A secretária geral da Ulapsi, Inea Arioli, chamou atenção para o processo colonizador extrativista como ponto comum dos países latino-americanos e pontuou os reflexos desse processo histórico na forma como se faz Psicologia. “A Psicologia feita aqui vem com marcas da colonização. Mas é também fruto da resistência a esse processo”, avalia.
Nesse sentido, a psicóloga brasileira afirma que os aspectos relacionados a violência, machismo, exploração e patriarcado são fundamentais nos processos de subjetivação, por isso, devem ser considerados na formação em Psicologia. No entanto, em sentido oposto, essa formação se ancora majoritariamente no conhecimento produzido pelos países colonizadores.

“Talvez a gente deva se debruçar sobre aquilo que Sawaia [pesquisadora brasileira] chama de sofrimento ético-político, que é produzido pela pobreza”, afirmou. “Nós somos a profissão e a ciência que pode falar sobre o que a pobreza produz nos sujeitos porque nós pesquisamos isso. É uma responsabilidade nossa”, reforçou.
Inea Arioli também realçou que é importante fazer essa mudança de perspectiva a partir de ferramentas diferentes das empregadas pelo colonizador. “O modelo do colonizador é extrativista e o diálogo é o oposto dessa lógica”, defendeu.

Ensino Superior na América Latina – O secretário tesoureiro da Ulapsi e psicólogo argentino, Mario Molina levantou aspectos para a reflexão sobre o envolvimento da Psicologia latino-americana na compreensão dos fatos sociais.

Mario Molina também realçou o contexto de violência, patriarcado, pobreza e desigualdades sociais como aspectos comuns às sociedades latino-americanas. O psicólogo defendeu a necessidade de que o desenvolvimento da Psicologia, como ciência e profissão, ocorra de forma a compreender essa realidade e enfrentá-la.

Como parte desse enfrentamento, as universidades devem contrariar as expectativas do mercado em relação ao que deve ser abordado na formação dos profissionais. Assim, o ensino superior não se enquadra no paradigma da mercadoria, mas se torna emancipatório e parte integrante do processo de “descolonização”.

Um aspecto fundamental nessa trajetória é o reconhecimento pelos cursos de Psicologia do conhecimento produzido na América Latina. Segundo Mario Molina, uma pesquisa realizada sobre a bibliografia utilizada nas disciplinas de Psicologia Social revelou que os autores latinos eram menos de 10% do conjunto trabalhado.

Redes sociais – Antes de abordar o tema de sua explanação, o secretário administrativo da Ulapsi e psicólogo de El Salvador, César Mejía, destacou a homenagem da Ulapsi aos psicólogos Marcus Vinicius Oliveira (Brasil) e Ignacio Martín-Baró (El Salvador), ambos assassinados em seus países de origem. César reforçou que as trajetórias de Marcus e Ignacio comprovam que a Psicologia não é uma ciência asséptica, mas comprometida com a realidade social.

O psicólogo abordou o atual contexto de interação pautado pela internet e pelas redes sociais e os desafios que ele coloca para a Psicologia. César Mejía apontou a dificuldade de mobilização da categoria de psicólogas(os) frente a contextos de graves desigualdades e violências das sociedades latino-americanas.

A partir do Anuário de 2017, César apresentou dados da América Latina: as pessoas passam em média 6 horas por dia na internet, das quais de 3 a 4 em redes sociais. E a tendência é de aumento do número de horas online.
Ao mesmo tempo, o psicólogo aponta para desafios de organização da categoria em grupos capazes de enfrentar aspectos contundentes da realidade latino-americana, tal como o feminicídio: apesar de ter 8% da população mundial, os países da região são responsáveis por 33% dos casos de assassinatos de mulheres.

Veja a transmissão da mesa realizada pela página do CRP-MG no Facebook.



– CRP PELO INTERIOR –