LGBTFobia é tema do penúltimo Psicologia em Foco do mês

Dezessete de maio é Dia Internacional contra a LGBTfobia. Em consonância com o tema, nesta quarta-feira (18), o ciclo de eventos Psicologia em Foco do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) abordou o tema “LGBTFobia: impactos subjetivos e psicossociais da violência na vida dos sujeitos”. Clique aqui para ver as fotos do evento.

A mesa contou com a participação da doutoranda em Psicologia pela UFMG e vice-coordenadora do Instituto Mineiro de Saúde Mental e Social (Instituto ALBAM), Tayane Lino; e pela secretária de Comunicação da Rede Trans Brasil e conselheira suplente do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT, Sayonara Nogueira. O debate foi coordenado pela conselheira e coordenadora da Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do CRP-MG, Dalcira Ferrão.

Tayane iniciou sua fala explicando a importância dessa data. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças desde 1990. A data foi criada em meio a um cenário em que atitudes homofóbicas e transfóbicas ainda estavam arraigadas globalmente, expondo lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans (LGBTs) de todas as idades a violações de Direitos Humanos”, explicou.

A psicóloga informou que, mesmo depois de 26 anos da criação desse marco, a discriminação ainda persiste e muitas agressões físicas e psicológicas afetam essa população. “São ataques sem motivo aparente. As pessoas que praticam esses atos sempre arrumam uma justificativa para a agressão, como se tivessem causas para tal atitude”, relata. Tayane Lino apresentou os seguintes dados: segundo o relatório sobre assassinato de LGBT’s, elaborado pelo Grupo Gay da Bahia, em 2015, 318 pessoas LGBTs foram assassinadas no Brasil em crimes de fundo LGBTfóbico. Trata-se de um crime de ódio a cada 27 horas. Apenas 25% dos homicídios com fundo LGBTfóbico tiveram seus autores identificados e destes, menos de 10% foram processados e punidos.

Tayane afirmou que nesse contexto de extrema violência ainda é comum a reprodução de argumentos discriminatórios que consideram a homossexualidade como anomalia psicológica. “Ainda há profissionais de Psicologia que ‘buscam’ o desenvolvimento de terapias de conversão sexual. Nesse sentido, a patologização de adultos e crianças LGBTs marcando-os como doentes com base em sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero tem sido, historicamente, uma das raízes por trás das violações de Direitos Humanos que eles sofrem”, analisou.

A psicóloga também falou sobre a homofobia internalizada. “É a internalização da ideologia do opressor. Em outras palavras é quando o sujeito homossexual apresenta uma postura hostil à experiência sexual de outros e de si mesmo”, explicou. Tayane finalizou: ontem, hoje e amanhã sempre será dia de combater o preconceito e espalhar o amor e menos ódio!

Violência – Sayonara deu continuidade ao debate explicando que faz mapeamento de mortes de travestis e transexuais em todo o país e que também recebe dados de todo o mundo. “De 2008 a 2015, a Transgender Europe mapeou 1500 pessoas travestis e transexuais assassinadas na América do Sul e Central. O Brasil é o campeão com 802 assassinatos”, pontuou.

A secretária de Comunicação da Rede Trans Brasil ainda apresentou casos de assassinatos de travestis e transexuais em todas as regiões do Brasil e realçou que a imprensa sempre utiliza determinados termos como: “homem encontrado com roupa de mulher é assassinado”, ou “travesti/traveco é assassinado”. “A maior parte dos homicídios ocorre por armas de fogo, facadas e atropelamento intencional, casos de homens trans que acabam sendo identificados como mulheres lésbicas, ou de travestis identificados enquanto homens gays”, explicou.

Sayonara finalizou sua fala mostrando um dado importante: no Japão, o último assassinato de uma travesti foi há 10 anos e, mesmo assim, no dia seguinte, o governo local criou lei específica para punir casos LGBTfóbicos.

Dalcira fez uma intervenção após a fala de Sayonara. “Depois de tantos dados alarmantes, ainda há pessoas que perguntam porque este assunto deve ser discutido na Psicologia. Apesar dos dados apresentados serem um choque, precisamos estar por dentro dessa realidade para sair da nossa zona de conforto. Vamos lutar para que a população LGBT tenha cidadania, direitos e se a Psicologia não respondeu a este lugar no passado, precisamos começar a transformar e a fazer mudança na vida dessas pessoas”, afirmou.



– CRP PELO INTERIOR –