Mesa reflete sobre atuação de psicólogas(os) no combate ao racismo e ao encarceramento em massa

“Encarceramento em massa, racismo e as práticas da Psicologia: interseções” foi o título do debate realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira, 13, em sua sede, em Belo Horizonte.

Assista o registro do encontro em vídeo.

O ciclo de eventos Psicologia em Foco contou com as contribuições das psicólogas convidadas, Jéssica Gonçalves da Silva, trabalhadora na APAC Masculina de Santa Luzia e integrante da Comissão de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG; e Thays Santos, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos, monitora do Grupo de Estudos Críticos sobre Crime e Sociedade Punitiva e co-coordenadora da Plataforma Desencarcera. Mediou o evento, Fabíola do Amaral, psicóloga do trabalho na Regional Leste da Prefeitura de Belo Horizonte e também integrante da Comissão de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG.

Ao abrir o evento, Fabíola do Amaral apresentou a produção da Comissão que integra no Conselho e convidou a categoria, além de estudantes de todas as graduações que tenham interesse pela temática étnico-racial, a participar das reuniões. Ela propôs ao público o deslocamento do lugar de punição em relação às pessoas encarceradas e ressaltou que as mulheres têm sofrimentos bem específicos quando se tornam aprisionadas.

Combate às desigualdades – Jéssica Gonçalves traçou um panorama da população carcerária brasileira e apontou as desigualdades como ponto chave. “Ao invés de pensarmos, por exemplo, no combate às drogas, temos que combater a pobreza e o racismo. Além disso, é notório que temos uma política de controle de corpos e a sociedade se esquiva de suas responsabilidades”, pontuou.

Para a psicóloga, a cor da pele é determinante para a Justiça desde o momento da abordagem policial: “a raça determina como a pessoa será tratada em todo o processo judicial”. Por fim, Jéssica Gonçalves provocou os participantes do Psicologia em Foco a pensarem sobre a relação entre as ações de combate às drogas e a redução da produção dessas drogas. “Não há efeitos de redução”, concluiu.

Thays Santos abriu sua exposição ressaltando que estar em uma mesa de mulheres negras concretiza a ideia de que estão finalmente sendo ouvidas. “Mulheres negras produzem crítica e conhecimento”, assinalou. Ela explicou que ao pensar sua fala entendeu que teria como temas o projeto genocida do Estado, uma sociedade punitiva e o encarceramento em massa, isso porque “não há como desvincular criminalização da questão racial e de classe em países colonizados e com histórico de escravidão negra, como o Brasil”.

Segundo ela, o sistema de justiça criminal opera de forma capilar, usando diversos dispositivos para alcançar cada vez mais pessoas nas ruas, no mercado de trabalho, nas escolas, nos territórios: “a prisão existe para fora dos muros dos presídios. Na lógica do inimigo, na lógica do combate nos moldes da guerra, todo lugar que tenha preto ou pobre é um local para forjar futuros presos”.

Ao encerrar sua exposição, Thays Santos disse que a profissão exige um comprometimento no enfrentamento ao racismo e às práticas decorrentes dele e citou o Código de Ética Profissional da(os psicóloga(o). “Temos que tomar cuidado para que nossas práticas não funcionem como alimento para os depósitos de rejeitados pela sociedade. Temos que tomar cuidado para não legitimarmos um discurso moralizante em relação às drogas, que contribua para internações forçadas e políticas genocidas de tolerância zero. O Conselho vem promovendo pesquisas e debates sobre nossa atuação no sistema prisional e isso é de suma importância para compreender nosso fazer e auxiliar na formação de uma prática que seja emancipatória e garantidora de direitos”, finalizou.

 



– CRP PELO INTERIOR –