Neoliberalismo foi pauta do Psicologia em Foco

O “Psicologia em Foco”, evento realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira (22), trouxe para o debate “Neoliberalismo, feminismos e subjetividades”.

A mesa foi formada pela psicóloga Cláudia Mayorga, doutora em Psicologia Social pela Universidade Complutense de Madri, com foco em estudo sobre gênero, política e feminismo, professora do Departamento de Psicologia da UFMG e do programa de pós-graduação em Psicologia e Pró-reitora adjunta de extensão da UFMG; Natacha Rena, arquiteta, urbanista, doutora e professora da Escola de Arquitetura e Design da UFMG; e a psicóloga Larissa Borges, que é integrante da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG e doutoranda em Psicologia Social pela UFMG. O evento teve como mediadora a conselheira e coordenadora da comissão Mulheres e Questões de Gênero do CRP-MG, Letícia Gonçalves.

Larissa Borges iniciou sua fala expressando solidariedade a Vanessa Beco , Marcela Eduarda Januária Carvalho (Madu) e Taciana Cristina Souza – mulheres negras que sofreram repressão policial e violência racial e física. A psicóloga partiu desses três exemplos para explorar o tema do evento e afirmou que a população negra tem o seu direito de existir negado e violado sistematicamente. E que pessoas, como o advogado, que agrediu fisicamente e moralmente a cabeleira Taciana, “não podem usar da sua subjetividade como um direito para humilhar as outras”, enfatizou Larissa.

A psicóloga analisou o atual contexto político do Brasil como um golpe contra a democracia e os direitos humanos. “O processo de golpe traz elementos significativos. O primeiro é a judicialização da vida – uma militarização disfarçada, velada. O segundo traz a retomada dos ideais do neoliberalismo na nossa sociedade. Nos governos Lula e Dilma houve uma freada nos avanços desse sistema neoliberal, que significa a liberdade de propriedades, a liberdade de mercado, ou seja, o mercado é livre, mas as pessoas não”, disse.

“O que vivemos hoje no Brasil também esta acontecendo em outros países: o aumento da desigualdade, a perda de direitos e uma total desconstrução do que temos pautado enquanto equidade se fortalece uma ideia de igualdade que desconsidera as diferenças. Isso vem em coisas do nosso cotidiano como piadinhas ‘as mulheres não querem igualdade agora vamos aposentar com a mesmo idade’, desconsideram a dupla, tripla jornada de trabalho que a mulher tem”, explicou Larissa.

Pensar coletivo – A arquiteta Natacha Rena, reforçou a fala Larissa Borges em relação ao fortalecimento das instituições do Estado num momento de crise política no atual contexto de golpe e considerou a importância do pensar coletivamente. “Um ativista ir para luta sozinho é um grande risco, pois, no atual contexto político em que vivemos, é necessário unir forças de forma organizada”, explicou.

Natacha deixou questionamentos para o público a partir da análise dos pensadores Pierre Dardot e Christian Laval, no livro “A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal”. “Os autores falam que a razão neoliberal é a grande razão do momento e ela está na nossa vida cotidiana, na nossa relação com a família, mas também o mundo do trabalho. Existe uma hipótese dada pelos pensadores de que o neoliberalismo coloca o capital no papel do Estado e essa hipótese se confirma nesse livre mercado onde existem essas parcerias entre o público e o privado. E isso é nítido, essa é a face mais clara é obvia do livre mercado”, disse.

Ela esclareceu que o neoliberalismo não é somente uma ideologia política ou econômica, e sim uma visão de mundo. Segundo a arquiteta, na ideologia neoliberal, as subjetividades são cada vez mais anti-coletivas: são colaborativas na perspectiva do capital contemporâneo, mas não coletiva.

Sob a luz da psicologia – Cláudia Mayorga acrescentou a visão da Psicologia dentro do contexto histórico em relação ao tema. “Nós nos tornamos uma ciência neoliberalista”, disse. Explicando que a Psicologia foi constituída como uma ciência privada, individual, que separava o indivíduo do seu contexto social, territorial, as questões de gênero, raça, sexualidade.

“A cisão indivíduo e sociedade criou a ideia de que esse sujeito é autônomo. É extremamente racional. Se houver um conjunto de saberes ele dá conta do recado como se não tivesse raça, cor, idade, sexualidade, gênero”, analisou Cláudia, que ainda criticou a visão de privatização da realidade, dos conflitos e a individualização dos problemas sociais, exemplificando a ideia da Psicologia Clínica, da atuação da (o) psicóloga (o) no escritório, que se trata de uma representação consolidada na sociedade e que essa divisão é uma das mais nocivas que fazem parte da historia da Psicologia.

A psicóloga propôs uma reflexão para as (os) psicólogas (os). “É necessário que voltarmos aos questionamentos da velha Psicologia, para quem fazemos Psicologia? Por que fazemos Psicologia? Em nome de que perspectiva de sociedade? Essas perguntas são necessárias nesse momento de urgência em que vivemos, principalmente por ser parte do nosso campo de conhecimento”, enfatizou Cláudia.

A conselheira Letícia Gonçalves firmou a importância das vozes na mesa e as várias perspectivas fundamentais para entendermos o atual momento em que vivemos.



– CRP PELO INTERIOR –