Nota conjunta Nota de solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá e de repúdio aos assassinatos de indígenas e indigenistas

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) e o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes- UFMG manifestam solidariedade aos povos Guarani e Kaiowá, de Mato Grosso do Sul (MS) e às famílias de Vitor Fernandes, da etnia Guarani-Kaiowá, e dos indigenistas Bruno Pereira e Dom Phillips. Atualmente o Brasil ocupa os primeiros lugares no ranking dos países que mais matam lideranças indígenas, defensoras(es) dos Direitos Humanos e ativistas ambientais[3]. Pelo compromisso na defesa dos Direitos Humanos, as organizações repudiam veemente todas as ações brutais cometidas contra estas pessoas.

Entre os dias 23 e 24 de junho duas comunidades Guarani e Kaiowá foram brutalmente atacadas: o tekoha Kurupi/São Lucas, no município de Naviraí (MS), e tekoha Guapoy Mirin Turuy, em Amambai (MS). Este último está sendo nomeado pela comunidade e suas organizações como “Massacre de Guapoy”, pelas características da violência, “tiros em jovens desarmados, violações a pessoas rendidas, disparos de helicóptero”[1], como denuncia a Aty Guasu (Assembleia Geral Guarani e Kaiowá), sendo evidenciados por registros de vídeo e imagens que circularam na internet durante a última semana.

O Massacre de Guapoy foi protagonizado pela Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, em acordo e articulação com interesses de fazendeiros locais, remontando procedimentos coloniais[2]. Esta ação, realizada sem mandado de reintegração de posse e sob a vigência da determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspensão de despejos e desocupações referendada pela Arguição de Descuprimmento de Preceito Fundamental (ADPF) 828, portanto, com inconformidades legais, culminou no assassinato do indígena Vitor Fernandes e com várias pessoas feridas, incluindo dois adolescentes que foram hospitalizados com a presença de policiais.

Os ataques e o massacre contra os povos Guarani e Kaiowá aconteceram no mesmo mês do desaparecimento e assassinato dos indigenistas Bruno Pereira e Dom Phillips. Esse cenário extremamente violento para os povos indígenas e ativistas reflete a conjuntura atual abertamente contrária às pautas indígenas e ambientais, intensificando as violações de direitos e mortes em nosso país, ora perpetrada por grupos e redes criminosas, outrora por forças do próprio Estado.

Em solidariedade ao tekoha Guapoy Mirin Turuy reafirmamos a manifestação da Kuñangue Aty Guasu (Conselho das Mulheres Guarani e Kaiowá): “Exigimos urgentemente a proteção a Retomada Guapo’y Mirin Tujury em Amambai-MS. Que seja cumprido o levantamento antropológico do território, que faz parte da Reserva Indígena de Amambai (RIA), onde está a segunda maior população Kaiowá e Guarani de MS”[4].

Não podemos admitir que mais sangue indígena e de defensoras(es) de Direitos Humanos seja derramado brutal e impunemente. Continuemos como uma Psicologia implicada na garantia da vida de todas as pessoas.

Nenhuma Gota de Sangue Indígena e Indigenista a Mais!

Belo Horizonte, 5 de julho de 2022

Comissão de Direitos Humanos

XVI Plenário do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais e Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes da Universidade Federal de Minas Gerais

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