Orientações sexuais e identidades de gênero são discutidas em evento promovido pelo CRP-MG

A Roda de conversa “Diversidade humana: compreendendo as orientações sexuais e identidades de gênero” aconteceu no auditório do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), no dia 11/7. Realizada por meio da Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, a mesa foi coordenada pela conselheira e presidente da comissão, Dalcira Ferrão, e contou com a participação da conselheira Cláudia Natividade, que é integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero e coordenadora do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop), além da travesti e participante dos cursinhos Transenem e Transvest, Libernina Aninrebil.

A conselheira Cláudia Natividade propôs uma reflexão acerca dos discursos relativos à orientação sexual e à identidade de gênero. De acordo com ela, quando se fala em discurso, também se fala sobre prática. “O discurso é um termo técnico que vai dizer também de um uso, de uma forma de representação ou de significação que organiza uma prática cotidiana no mundo”, explicou.

Cláudia Natividade propôs uma discussão baseada nas teorias desenvolvidas pelo filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth. Segundo Cláudia, a perspectiva defendida pelo autor pode abrir outras portas e permitir mais avanços para a Psicologia, uma vez que a Teoria do Reconhecimento é um campo novo de organização teórica e prática. “O Honneth traz, na dimensão do amor, como que as nossas relações, ainda na infância, constroem um sistema que é afetivo, de confiança, que vai fazer com que a pessoa se sentindo amada estabeleça relações bastante produtivas e específicas no seu desenvolvimento”, explicou.

A segunda dimensão, de acordo com Cláudia, é o destino social e a forma como as posições são aceitas, reconhecidas e valorizadas no âmbito social. A terceira é a da justiça e a forma como os sujeitos estão amparados por legislações específicas.

Relato – A outra convidada da roda de conversa foi Libernina Aninrebil, que se apresenta como “travesti do poder, nascida da resistência, destruidora de opressões, transfeminista”. Libernina relatou sua experiência de vida e propôs algumas reflexões acerca do movimento LGBT. “A sociedade dita o que é normal e limita a identidade de gênero”, afirmou.

Ao contar sua história pessoal, Libernina falou da maneira como se posicionava diante da família e da sociedade e das mudanças físicas pelas quais passou. “Os meus pais sempre eram chamados na escola por eu querer participar das atividades ‘ditas’ femininas e não me deixarem”, relatou. Libernina também enfatizou que não entendia os motivos dessa diferenciação. “Por que eu não podia ser aquilo que eu queria ser?”, questionou.

“Todo ano, o meu pedido de aniversário era para que eu me transformasse em menina. Comecei a seguir os padrões impostos pela sociedade – nos fazeres domésticos, na forma como lidava com as pessoas. Achava que seria essa a forma de ser aceita”, contou.

Libernina explicou também a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual. Identidade de gênero é a percepção que a pessoa tem de si mesmo e a orientação sexual é a maneira como ela se sente atraída afetivo-sexualmente. “Errado é padronizar. Socialmente nós impomos essas regras, mas, na vida, não existem essas definições”, argumentou.

Jornada LGBT – Aproveitando o evento que faz parte da 3ª Jornada pela Cidadania LGBT, o ativista e militante do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS MG), Thiago Costa, convidou todas(os) para as atividades da Jornada.  Reconhecendo o apoio das entidades que atuam pela causa e pelo apoio histórico do CRP-MG, Thiago disse que a busca por direitos das identidades trans e as políticas públicas são norteadores dessa mobilização. As atividades da Jornada acontecem até este domingo, 17 de julho, quando ocorre a 19ª  Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte. Confira a programação completa na página: 
https://www.facebook.com/curtacellos

Construção – A coordenadora da mesa e da Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, Dalcira Ferrão, analisou que a identidade profissional ainda está em processo de construção. A Psicologia, de acordo com Dalcira, já demarca e reafirma seu posicionamento político e ideológico na perspectiva da despatologização. “O nosso fazer profissional está em constante aprendizado e transformação”, concluiu Dalcira. “Todos devem ocupar esse lugar de espaço, que é o CRP-MG. Fica aqui o nosso compromisso com essa luta”, complementou Cláudia Natividade.



– CRP PELO INTERIOR –