Os impactos da tercerização na vida do trabalhador foram debatidos no Conselho

Na edição desta semana do Psicologia em Foco – ciclo de eventos do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), realizado toda quarta-feira, as 19h, em sua sede, em Belo Horizonte – foram discutidos os impactos da terceirização na vida do trabalhador. O CRP-MG colocou este tema em debate em função da tramitação do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 30/2015, que está em análise no Senado Federal. Clique aqui para ver as fotos.

A psicóloga e vice-presidente do Sindicato dos Psicólogos de Minas Gerais (Psindmg), Letícia Gonçalves, convidada pelo Conselho para coordenar a mesa, abriu o encontro falando sobre a importância de discutir o tema neste momento e como as duas entidades (CRP-MG e Psindmg) estão empenhadas em pensar nos impactos da terceirização para a categoria e para a sociedade.

Iniciou a fase de exposições do Psicologia em Foco da noite José Newton Garcia de Araújo, psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). A primeira reflexão proposta por ele foi relativa ao contexto político. “Esse projeto foi desengavetado no momento em que somos representados por um dos congressos mais conservadores da nossa história. Mundialmente vivemos o fenômeno de um projeto político-econômico de concentração de renda, no qual a lógica do mercado invadiu todos os espaços da vida social. Todo este cenário vem gerando uma grande insegurança pessoal, trabalhista e jurídica”, pontuou.

Adoecimento mental – Para José Newton, a terceirização irá gerar muitas as perdas, sendo a mais relevante delas o adoecimento físico e psíquico do trabalhador. “O adoecimento mental é hoje a terceira causa mais comum que faz com seja acionada a previdência pública, mas especialistas acreditam que logo passará a ser a primeira”, contou ele completando que o trabalhador é levado a perder sua identidade profissional. Desaparece o trabalho como criação para ser uma simples servidão. Esse sentimento de desamparo existencial passa a ser tão profundo a ponto de atingir a vida pessoal.

Com uma visão complementar à do psicólogo, a professora Adjunta de Direito do Trabalho da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Daniela Muradas Reis, fez sua exposição em seguida. Na sua opinião, o trabalho se torna uma mercadoria e por consequência, o trabalhador também.

“A terceirização desencadeia uma série de impactos nocivos: o rebaixamento de salários, o aumento da carga horária para suprir perdas, mais rotatividade do trabalhador, menos segurança inclusive no ambiente empresarial visto que o terceirizado não é amparado por comissões de prevenção de acidentes. Mas o pior de todos é o dano existencial para a pessoa, que perde sua identidade social”, alertou Daniela. Segundo ela, o ponto chave está no fato da importância que o trabalho tem para o ser humano, por ser o centro de referência de sua identidade. A consequência final é, na sua visão, a invisibilidade humana, sobretudo para quem já é vulnerável na sociedade. “A terceirização é sexista, machista, racista e misógina. Um instrumento eficaz de acentuar as desigualdades sociais e a violência”, ressaltou.

Antes de abrir para o debate, Letícia Gonçalves, chamou a atenção de todos sobre como a terceirização afeta a categoria. Ela disse que o Psindmg está mapeando a situação de psicólogas e psicólogos em Minas por ser um estado que emprega muitos desses profissionais, principalmente pelas políticas de saúde e de assistência por meio de contratos. “Os gestores municipais justificam priorizar contratos em detrimento de concursos por entender que são programas temporários. Mais ainda, encontramos uma diferença de salário de até 30% entre profissionais exercendo os mesmos serviços e em relação a outros”, explicou completando que a “tercerização irá legitimar ainda mais as vulnerabilidades como a questão de gênero no mercado pois, trata-se de uma categoria composta majoritariamente por mulheres. Além disso, temos identificado muitos terceirizados mulheres, negras e negros, e jovens ocupando postos precarizados”, concluiu a psicóloga.



– CRP PELO INTERIOR –