Prevenção ao suicídio foi o tema do Psicologia em Foco

Nesta quarta-feira (27), o Psicologia em Foco – ciclo de eventos do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) – debateu a atuação da Psicologia nas estratégias conjuntas de prevenção ao suicídio. Para falar sobre o assunto, foram convidadas a psicóloga do trabalho Giselle Brandão e a psiquiatra Ana Marta Lobosque. A coordenação de mesa ficou a cargo da psicóloga e conselheira do Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais Lourdes Machado, que apresentou um dado importante: o Brasil é o 8° país com mais suicídios no mundo. Clique aqui para ver as fotos.

“O suicídio é um fenômeno psicossocial complexo e de difícil apreensão que envolve a associação de determinantes distintos: sociais, singulares, culturais, biológicos e situacionais”, explicou Giselle Brandão. A psicóloga também relacionou o suicídio com o trabalho. “Deve-se reconhecer o trabalho como atividade humana e que ele pode causar algum adoecimento psíquico. Além disso, não se pode desvincular o suicídio da história de vida do sujeito”, relatou.

A psicóloga disse que o suicídio deve ser tratado como um problema de saúde pública. “Os estudos voltados à identificação de fatores de risco, de ações preventivas são fundamentais para minimizar as incidências, proteger o cidadão, a família e as relações sociais mais amplas. Entretanto pelo caráter de cada caso de morte por suicídio é preciso reconhecer os limites das referências epidemiológicas e associá-las a metodologias qualitativas apropriadas”, afirmou.

Giselle falou sobre a importância da organização do trabalho. “Se o serviço apresentar arranjos na distribuição de funções, perceber se o que o funcionário está fazendo é muito ou pouco, é de grande relevância para a saúde do trabalhador. Isso porque pode se evitar algum tipo de transtorno, como a depressão e até mesmo casos de suicídio”, pontuou. Ela também apresentou dados alarmantes de algumas empresas. “Em uma rede de telecomunicações no ano de 2000, 28 suicídios aconteceram, em 2002 foram 29 e entre fevereiro de 2008 a julho de 2009, 23 casos. O relatório mostrava que havia muito estresse no trabalho, uma gestão da mudança inadequada por parte da direção da empresa, estatutos distintos e concorrentes entre assalariados, entre outros fatores”, explicou. Gisele ainda falou dos altos dados de suicídio no setor bancário, pois esses profissionais trabalham com alta pressão sobre eles.

A psicóloga também falou sobre o suicídio como um ato volitivo. “Ele pode ser consciente ou alienado, visando interesses particulares ou coletivos, submetido à própria vontade ou à vontade alheia. Além de vir impregnado de emoções, motivos e imaginações”, concluiu.

A psiquiatra Ana Marta Lobosque, que também trabalha com adolescentes na rede pública de saúde, deu continuidade à roda de conversa. “Felizmente entre esse público os casos de suicídio são raros, porém eles (adolescentes) arrumam outras formas de aliviarem a dor, como a automutilação”, afirmou.

Em relação ao sentimento de culpa, Marta explicou a posição dos sujeitos. “Há pessoas que tomam atitudes reprováveis e não se sentem culpadas enquanto outras são escrupulosas e se culpam o tempo todo. O que importa são as maneiras como as pessoas conscientemente vão se sentir culpadas ou não, se vão se reprovar ou se irão colocar a culpa no outro”, afirmou. Ela ainda pontuou que a marca da culpa é vazia. “É uma espécie de uma fenda que vai atraindo coisas ruins. Quando esse conteúdo cai nesse buraco ele volta e cada um vai tomar seu rumo. Esse sentimento de culpa é um alerta que deve ser percebido e estudado”, pontuou.

Ana Marta recomendou que para lidar com o suicídio deve-se primeiramente cortar os julgamentos contra pessoas que falam no auto-extermínio. “Falar que é charme e que se a pessoa quisesse já teria se matado é um tipo de fala que deve ser abolida completamente. Esse tipo de avaliação apenas fortalece a culpa do outro”, ponderou. “As tentativas mal sucedidas de suicídio devem ser observadas. Pode ser uma forma de chamar a atenção para dizer que as coisas estão indo bem. Temos que tentar escutar essas pessoas por mais boba que pareça a tentativa” pontuou.

A psiquiatra finalizou afirmando que independente do caso, as(os) profissionais devem oferecer cuidado intensivo e de todas as formas possíveis para que haja um tratamento e uma melhora desse sujeito.

 



– CRP PELO INTERIOR –