Primeiro Psicologia em Foco do mês de maio abordou a Luta Antimanicomial

O ciclo de eventos Psicologia em Foco, do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), retornou nesta quarta-feira (11) com um tema de relevância para a Psicologia: a Luta Antimanicomial na atualidade. A mesa, que teve coordenação da psicóloga Tereza Nogueira, conselheira do CRP-MG e gerente do Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) – Leste, contou com a presença da psicanalista, doutora e mestre em Psicologia pela UFMG, psicóloga judicial do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário – PAI-PJ do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Romina Gomes. A gerente do Centro de Convivência São Paulo, integrante do Fórum Mineiro da Saúde Mental e membro da Associação Suricato também esteve presente no debate. Clique aqui para ver as imagens do evento.

Romina abriu a mesa explicando os princípios do PAI-PJ. “O primeiro é a presunção de sociabilidade. O segundo visa o tratamento a partir da consideração do que o sujeito traz e o terceiro a responsabilidade. Essas duas últimas são noções que caminham juntas, pois se há sujeito, há responsabilidade”, afirmou. Segundo Romina, o trabalho do PAI-PJ considera que cada sujeito aponta o caminho para se tratar. “O ato cometido diz muito do sofrimento de cada um. Em via de regra, encontra-se uma situação de desamarração da solução constituída pelo sujeito para lidar com o sofrimento no momento do ato. A responsabilidade possível que nos propomos pensar é pela invenção do que cada um construiu para lidar com o insuportável. Cada um tem uma solução que lhe permite viver e isso vale para todos os sujeitos”, declarou.

A psicanalista ainda falou que “o Programa constrói um trabalho em rede que incluiu todos os dispositivos de uma cidade capazes de tratar o sofrimento de acordo com o que é apontado por cada sujeito. A orientação primordial do trabalho não provem de um saber técnico ou especialidade, mas do saber que o sujeito vai entregando nos vários pontos da rede. É uma prática democrática e uma rede horizontal e que tem como princípio o sujeito, oferecendo a ele a palavra. Também considera o juiz como parte dessa rede e como um operador clínico que favorece o tratamento. Dar voz e lugar ao sujeito tem sido o nosso compromisso”.

Desinstitucionalização da loucura – Marta Soares continuou a fase de apresentações fazendo uma contextualização histórica dos manicômios. “Esse lugar representa isolamento, anulação dos sujeitos, a violência consentida e o nome da razão além de todas as violências absurdas”, afirmou. Ela completou dizendo que se as violências são dessa forma, o modo de tratar também se torna incoerente para normatizar: isso acontece para proteger do perigo quem está de fora. Nesse contexto, os mitos de que os loucos são pessoas perigosas e incapazes estão sempre presentes.

A convidada relatou o paradigma manicomial que ainda sustenta os manicômios disfarçados. “A superação desse modelo acontece com a desinstitucionalização da loucura, que é criar novo olhar, mudar a forma de pensar. Desinstitucionalizar a loucura é desinstitucionalizar a sociedade”, declarou. Para ela o desafio nessa luta é a superação dos manicômios e a inclusão de cada um na sociedade do jeito que realmente é. Em relação aos direitos, Marta realçou que deve haver o resgate dos direitos básicos da condição humana.

Outro ponto importante, na sua opinião, é a formação das universidades que está “muito tecnicista”. “Cadê o pensamento e a sensibilidade?”, perguntou.

Ao finalizar, Marta afirmou: o PAI-PJ é nosso!

Hospital psiquiátrico versus serviço substitutivo – No encerramento, a conselheira do CRP-MG Tereza Nogueira falou da relação entre os profissionais que trabalham com saúde mental. “Há uma diferença entre o hospital psiquiátrico e o serviço substitutivo. Onde trabalho, por exemplo, no Cersam Leste, o paciente chega e é acolhido por qualquer profissional que esteja de plantão. No acolhimento, o psiquiatra necessariamente não avalia. Somente se for o profissional que fez o primeiro atendimento ou se um colega de trabalho achou que o paciente deveria passar por ele”, afirmou.

Ela ainda explicou que em um hospital psiquiátrico quem dá alta é o médico, mas no serviço substitutivo qualquer profissional da saúde mental pode tomar essa atitude. “Alguns trabalhadores dessa área têm dificuldade em assumir isso por ser algo de grande responsabilidade, mas a confiança no seu trabalho é algo primordial”, declarou.

Para finalizar, Tereza relatou a importância de se criar outra identidade profissional. “Abrir mão da identidade engessada é se permitir participar de todos os processos e aprender cada vez mais. Claro que cada profissional vai usar as habilidades de sua profissão, mas para fazer a saúde mental é preciso pensar diferente e se permitir ter outras identidades”, concluiu.

Assista ao evento no nosso canal no Youtube pelos links:

https://www.youtube.com/watch?v=r-qAindoaCE
https://www.youtube.com/watch?v=34-JkjQtWc4
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– CRP PELO INTERIOR –