02 jun Profissionais de diversas especialidades unidas(os) no cuidado psicossocial é destaque da quinta edição do projeto Janeiro a Janeiro de 2022
O diálogo reuniu a visão de cinco especialistas acerca do trabalho multiprofissional nos serviços substitutivos
O serviço de atenção psicossocial tem um histórico longo de melhorias contínuas. Um dia esses locais foram dominados pela lógica hospitalocêntrica, hoje, existem outras possibilidades.
Ofertas de cuidado efetivo foram criadas para as(os) usuárias(os). A instituição da Rede de Atenção Psicossocial, a operalização nos moldes abertos e acolhedores, onde usuárias(os) e familiares são os protagonistas.
Entre perdas e ganhos, os serviços sobrevivem mesmo diante da falta de investimento, qualificação e renovação de trabalhadoras(es). Muito dessa trajetória se dá em prol de equipes comprometidas com o modelo.
As equipes dos Centros de Apoio Psicossocial e outros serviços substitutivos são compostas por trabalhadoras e trabalhadores de diversas áreas dos saberes justamente para haver possibilidades de cuidado e não apenas uma visão hegemônica.
Com a proposta de pensar a questão do atendimento em saúde mental, cinco profissionais conversaram, na noite desta terça-feira, 31 de maio, durante mais uma edição da live do projeto Saúde Mental de Janeiro a Janeiro.
A psicóloga Lourdes Machado, mediadora do bate-papo, abriu a live fazendo uma distinção importante. “Hoje, a RAPS (Rede de Apoio Psicossocial), em função de tantos retrocessos na política nacional, não nos representa mais. Ela inclui no seu bojo hospitais psiquiátricos, comunidades terapêuticas e em determinados momentos trouxe a eletroconvulsoterapia. Então a gente está aqui resgatando o que de fato são os serviços substitutivos.”
Em seguida, a psicóloga provocou as(os) convidadas(os) a falarem da perspectiva das equipes multiprofissionais e de como cada um(a) se enxerga dentro do modelo.
Para a assistente social, Carina Camargos, trabalhadora do Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas(Cersam AD) Pampulha/Noroeste e do Consultório de Rua do SUS de BH, o trabalho conjunto está no cerne da profissão. “Estar em uma equipe multiprofissional não é uma novidade, é uma condição para o nosso fazer enquanto Serviço Social. O nosso objeto de trabalho são as pessoas, no meu caso aquelas que fazem uso prejudicial de substâncias”, afirma.
Para Flamareon Passos, a questão do multiprofissionalismo dos serviços sociais parte do entendimento de que o ser humano experiencia diversas formas de sofrimento psíquico. “A complexidade do sofrimento humano traz para nós [terapeutas ocupacionais] exigências profundas na linha de cuidado e isso justifica a quantidade dos núcleos de saberes”, pontua.
Enfermeiro com especialização em residência em saúde mental e trabalhador do Cersam AD 24 hs em Belo Horizonte, Jarbas Vieira, conhece o dia a dia das(os) usuárias(os) e também de suas(seus) colegas de trabalho. Para ele, a medicalização faz parte da rotina e não há como negar isso, mas acredita que enfermeiras(os) se saem melhor quando atuam conjuntamente a outras especialidades. “Nós, profissionais da Enfermagem, sustentamos por muito tempo a instituição psiquiátrica, os médicos iam para renovar prescrição. Nos centros territoriais isso é diferente e a(o) enfermeira(o) trabalha melhor quando aberto às informações que vêm do núcleo de formação do outro”, avalia.
A psicóloga Cristiana de Souza resumiu que o serviço substitutivo não é um quadrado fechado onde cada uma(um) faz estritamente o que compete à sua área de formação. “Não é à toa que estamos em uma equipe multiprofissional. O trabalho no serviço de saúde mental nunca é feito em caixinhas, a gente sempre trabalha a lógica da referência multidisciplinar. É difícil trabalhar nessa lógica, mas é gostosa porque nos permite ampliar um leque de possibilidades na abordagem,” assegura a especialista em saúde mental e supervisora clínica no CAPSi de Ribeirão das Neves.
A live: “O papel da equipe multiprofissional nos serviços substitutivos” está na íntegra em nosso canal no Youtube, assista.
Sobre a série – “Saúde Mental de Janeiro a Janeiro” é composta por um conjunto de lives que ocorrem o ano todo porque a atenção em saúde mental precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades, de maneira a fazer o enfrentamento de todas as situações que impactam severamente a vida da população. E como o foco tem que acontecer de forma transversal e diversa, a cada edição propõe abordagens que dizem do cotidiano das pessoas, no que mais impacta naquele momento.