16 mar Psicologia e saúde da população negra foram debatidos em Juiz de Fora
“Psicóloga(o): onde você guarda seu racismo?”. Essa pergunta norteou, no último sábado, 11/3, o debate “Racismo e adoecimento psíquico: o papel da(o) psicóloga(o) na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”. A atividade foi promovida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio do Grupo de Trabalho Relações Raciais na Psicologia, que se reúne periodicamente na subsede Sudeste do Conselho, em Juiz de Fora.
A psicóloga e coordenadora do GT, Alline Pereira, explica que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, aprovada pelo Ministério da Saúde, é um marco importante para a Psicologia, no entanto ainda é desconhecida pela categoria. Tal situação é grave, uma vez que o racismo adoece e causa sofrimento psíquico.
“Tivemos depoimentos de pessoas negras que enriqueceram e fizeram nos aproximar dessa dimensão, aliás, somos negras(os) sujeitas(os) da experiência, e também do conhecimento! Vale destacar que ainda somos poucas(os) psicólogas(os) negras em nossa categoria. E daí a importância de termos o Coletivo Maria Bonita de Psicologxs Negrxs, o qual integro, aqui em Juiz de Fora”, relata Alline Pereira.
O evento também se caracterizou pelas contribuições de diversas áreas do conhecimento. O debate foi conduzido por: Abrahão Santos, doutor em Psicologia e professor na UFF, Giane Almeida, mestra em educação e coordenadora do Programa Ciranda Cidadã, da Prefeitura de Juiz de Fora, e Marcelo Campos, médico de família e comunidade e também coordenador do Programa Ciranda Cidadã.
Interdisciplinaridade
Abrahão Santos discutiu o papel da Psicologia no cuidado com a saúde da população negra do ponto de vista da formação de psicólogas(os). Giane Almeida e Marcelo Campos contribuíram com o debate ao relatar a forma como atuam na formação de trabalhadoras(es), incluindo psicólogas(os), no que diz respeito a relações raciais interseccionadas a gênero e classe.
“É fundamental discutir a responsabilidade da(o) psicóloga/o em um país onde temos mais da metade de sua população autodeclarada negra. Por isso, discutimos a importância da visibilidade do Plano Nacional, a responsabilidade e o compromisso profissional e refletimos sobre a influência do racismo na prática profissional de psicólogas(os)”, destaca a coordenadora do GT Relações Raciais na Psicologia.
A conselheira do CRP-MG, Eriane Pimenta, reforça a importância de que profissionais de Psicologia se dediquem ao tema. “Discutir as relações raciais no nosso fazer profissional é antes de tudo, reconhecer o quanto de preconceito e discriminação racial existem no nosso dia a dia. Indagar ‘onde escondo meu racismo’ pode ajudar a olharmos para dentro de nós e refletirmos. Digo que escondo meu racismo quando não questiono porque os negros não estão ocupando lugares que eu ocupo em igualdade. Quando olho pros lados e vejo apenas um, dois ou nenhum negro na mesma função que eu”, exemplificou Eriane Pimenta.