Psicologia em Foco discute o fenômeno da medicalização

Nesta quarta-feira (21) o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou a edição do ciclo de eventos Psicologia em Foco com o tema “A medicalização como fenômeno da modernidade”. Cerca de 30 pessoas participaram do debate e a coordenação ficou por conta da conselheira do CRP-MG Marisa Sanabria, que é psicóloga, mestre em Filosofia pela UFMG e pesquisadora do tema do feminino. Clique aqui para ver as fotos do evento.

Rodrigo Chaves, graduado em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), referência técnica de saúde mental de Brumadinho, membro da equipe técnica da Escola de saúde Pública de Minas Gerais, especialista em Saúde Pública, Gestão de Serviços de Saúde e Psicologia Clínica, foi o primeiro a fazer exposição. Ele iniciou dizendo que as pessoas sempre estão atrás das coisas que querem, para se sentirem completas. Normalmente não aceitam o sofrimento e buscam na medicalização soluções para seus problemas.

O convidado, porém, deixou claro que existem casos que há necessidade de remédios, como uma depressão aguda. “Não estamos falando que o uso de remédios não deve acontecer. A questão é que antes deve ser feito um diagnóstico para saber se a medicalização é necessária”, declara.

O psicólogo também falou das doenças que são negligenciadas, como a malária e a tuberculose que na verdade deveria se ter uma preocupação em relação ao seu tratamento. “Ninguém ouve falar em dosagem adequada para essas doenças porque não é de interesse da indústria farmacêutica, já que normalmente pessoas que apresentam essas patologias moram em locais de difícil acesso”, afirmou.
Para concluir, Rodrigo disse que hoje, no SUS, há uma melhor interação entre os profissionais da saúde. “O que temos tem visto, por exemplo, nos CAPSi é uma relação respeitosa entre o psicólogo e o psiquiatra. Toda a equipe, seja do motorista ao psiquiatra, se reúne para conversar sobre cada caso. Avançamos muito nessa relação, mas dentro dos hospitais a situação ainda é medicocentrada”, finalizou.

Medicalização na terceira idade – A pedagoga Thais Nogueira Gil, doutoranda e mestre em educação na linha de cultura, conhecimento e Inclusão Social, especialista em psicologia na Teoria Analítico-Fenomenológico-Existencial e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Culturas da PUC Minas, consultora e sócia de uma empresa que presta serviços educacionais, falou no debate do Psicologia em Foco sobre a sua pesquisa com o grupo cultural Meninas de Sinhá. “O conjunto é formado por mulheres idosas e negras que reinventaram a vida nas tramas do discurso musical. Antes do grupo elas faziam o uso de fortes medicamentos para depressão, situação que não acontece mais”, contou.

Thais explicou que a fundadora do grupo, Valdete Cordeiro, criou o projeto pois observou que as idosas saiam dos médicos carregando sacolas de remédios. Ela ficou intrigada, conversou com as mulheres e por fim, instituiu o grupo, fazendo que elas parassem com as medicações. A convidada também citou o autor Gilles Deleuze. “Ele fala que a arte te permite ir além do que você é capaz de ir e do que a sociedade permite. É por meio da arte que se consegue extravasar e é o que acontece nas Meninas de Sinhá”, declarou.

Para completar Marisa Sanabria disse que na sociedade se tem uma exclusão com as pessoas de terceira idade. “É um preconceito. Elas não querem envelhecer e quando isso acontece vê na medicalização uma alternativa, pois acabam sendo classificadas como pessoas nervosas, desorientadas e sem opinião própria”, falou . Além disso, a conselheira afirmou que a estrutura patriarcal determina as situações na sociedade como o “tempo de validade” e também as condutas desviantes nas crianças. “No sistema patriarcal estamos falando de homem, do masculino, mas falamos também de um sistema que tem a exclusão como marca específica”, concluiu.



– CRP PELO INTERIOR –