Psicologia em Foco discutiu erotização das mulheres negras

A edição de quarta-feira, 20/7, do ciclo de eventos Psicologia em Foco discutiu a erotização das mulheres negras. A atividade foi promovida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG)  e contou com a participação da mestranda em Psicologia Social, Andrea Marques, que mediou o debate, e das convidadas Thalita Rodrigues, psicóloga clínica e social, e Vanessa Beco, educadora social e supervisora em programas sociais.

Thalita Rodrigues explicou que quando se pensa na experiência das mulheres negras é importante ressaltar que cada uma tem a sua história e esse é um passo para compreender a erotização das mulheres negras. Ela abordou a forma como a mídia trata essas mulheres. “Mostram sempre as negras em uma posição sensual, ressaltando o decote e geralmente vinculando-as a um tipo de mulher mais fogosa, boa de cama. Podemos analisar também a Globeleza. Quando ela é uma mulher negra, mas de pele mais clara, com traços mais finos e cabelos menos crespos. Elas são mais aceitas pela sociedade do que uma mulher de pele mais escura. É algo que está de acordo para os padrões racistas”, ressaltou.

A psicóloga também declarou que é importante entender as especificidades das mulheres negras. “O Brasil passa a ideia de que é um país miscigenado. Mas, na verdade, ele foi construído com escravização, abuso e estupro. As mulheres negras eram escravizadas e violentadas”, explicou Thalita. Ela afirmou que não existe democracia racial e que o racismo é algo presente na vida da sociedade brasileira.

Solidão das mulheres negras – Thalita pontuou que apesar da questão da erotização, existe uma pesquisa sendo realizada sobre a solidão das mulheres negras. “Esse estudo aponta que essas mulheres são desejadas para um prazer sexual, mas poucos homens assumem esse relacionamento”, afirmou. Ela ainda disse que as mulheres negras são as que menos casam e que muitas que têm um relacionamento não se satisfazem no quesito de afetividade.

Juventude negra
 – A educadora Vanessa Beco avaliou que atualmente a juventude negra consegue se posicionar mais em relação ao ser negro do que no passado e isso é um ponto positivo.

“Podemos destacar também a lei 10.639 que determina que as instituições de ensino trabalhem com a história africana e afro-brasileira. Apesar de existir, ela não é estabelecida. Se o estado tivesse encarado essa lei, várias das questões que são importantes de se trabalhar já teriam promovido mudanças na sociedade em relação às pessoas negras”, destacou a educadora.

Várias trajetórias – Vanessa afirmou que as mulheres e homens negros são de vários tipos e tons de pele e cada um tem sua história, mas que não deixam de sofrer discriminação. “Muitas vezes quem toma essas atitudes são nossos parentes, vizinhos, a colega da faculdade e a do trabalho. Há aquela ideia de que a pessoa negra é marginal ou pobre”, ressaltou.

A psicóloga afirmou também que há várias situações de racismo, até mesmo dentro dos movimentos sociais. “Mesmo em 2016, as mulheres negras ainda são vistas como objetos. Elas também são classificadas como pessoas que servem para um relacionamento temporário em um certo momento da vida e em outros não. Essa questão da solidão não acontece só no laço amoroso, mas também no campo acadêmico e no trabalho”, declarou.

Negros e a Psicologia – Andrea, coordenado da mesa, avaliou como é difícil pensar em uma clínica psicológica que vá tratar do racismo. “Sabemos que há poucos psicólogos que saibam falar da questão da diversidade sexual, por exemplo. Com o racismo é mesma coisa. Acho que a única forma de mudarmos isso é trazendo pretas e pretos para dentro da Psicologia. Quando trazemos esse assunto em pauta não é vitimização, é tentar viver em uma sociedade mais justa, discutir esse assunto cada vez mais”, disse. Andrea finalizou realçando a importância do CRP abrir espaços para esse tipo de discussão. “É dessa forma que modificamos a história”, afirmou.

Sugestão de pesquisa – Durante o debate, foi sugerido que as(os) psicólogas(os) que desejarem saber mais sobre o tema consultem o “Guia de Referências – Psicologia e Relações Raciais”, produzido pelo Conselho Regional de Psicologia – Bahia (3ª região). Para acessar a segunda edição do Guia, clique aqui.



– CRP PELO INTERIOR –