Psicologia em Foco discutiu violência contra a mulher, aborto e seus reflexos sociais

O Psicologia em Foco, evento semanal realizado pelo Conselho Regional de Psicologia Minas Gerais (CRP-MG), debateu nessa quarta-feira (30/11) o aborto e seus reflexos sociais. Participaram da mesa, a psicóloga Paula Gonzaga, doutoranda em Psicologia Social e que atualmente se dedica ao estudo de itinerários abortivos; e a psicóloga e conselheira do CRP-MG Letícia Gonçalves, doutoranda em Bioética e integrante da Coletiva Estamira de Mulheres Psicólogas e da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. A mesa foi mediada pela conselheira presidenta do CRP-MG, Cláudia Natividade.

As convidadas abordaram o contexto histórico da violência contra a mulher no Brasil, os aspectos morais, políticos, éticos e jurídicos. A psicóloga Paula Gonzaga realçou que a história de formação da sociedade brasileira é marcada pelo estupro de mulheres indígenas e negras, que foram historicamente desprovidas da sua capacidade de decidir sobre o próprio corpo. “Há uma vasta produção literária, científica e acadêmica que coloca as mulheres que estavam aqui de maneira hipersexualizada, promíscua, bestial, animalesca. As mulheres não eram identificadas como indivíduos. Então quando se tem um histórico no qual a mulher era desprovida de seus direitos e sobre o próprio corpo, a gente não está falando de uma malha histórica que criminaliza só o aborto, mas de um processo que culmina em outros tipos de violência, a violência obstétrica, a violência contra as mulheres na rua – assédio verbal, moral, sexual – a violência doméstica, o feminicídio”, contextualizou Paula Gonzaga.

A psicóloga Letícia Gonçalves falou também sobre o histórico do aborto, explicando que na Idade Média essa prática não foi criminalizada por um longo período. Letícia citou o exemplo de que o frade Tomás de Aquino não considerava aborto até os três primeiros meses de gestação, pois o embrião ou feto não tinha alma. A mudança veio com a Igreja Católica, que se apropriou da questão para condenar as mulheres que cometiam tal ato.

Letícia também criticou a comissão do Senado que foi criada para discutir o tema. Ela classificou a comissão como “um círculo cínico, pois não vai a lugar nenhum”. A psicóloga realçou que enquanto o debate for polarizado e espetacularizado as mulheres vão sofrer, sobretudo as negras e pobres.

Decisão do Supremo Tribunal Federal – Na última terça-feira (29/11) a primeira turma do STF, decidiu a soltura de cinco médicos e funcionários de uma clínica clandestina, presos em Duque de Caxias (RJ), entendendo não ser crime um caso específico em que houve interrupção voluntária da gravidez até o terceiro mês. Paula Gonzaga, ao ser questionada sobre o caso, falou que certos argumentos utilizados por alguns ministros são um avanço, mas que a forma como a notícia foi interpretada pelas pessoas nas redes sociais e até pelo Congresso Nacional não trouxe a discussão necessária, além de achar muito preocupante as decisões com cunho religioso em um “Estado supostamente laico”.



– CRP PELO INTERIOR –