24 set Psicologia em Foco falou do papel do psicólogo no IML e na Defensoria Pública
Nesta quarta-feira (23/9), o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou a edição do ciclo de eventos Psicologia em Foco com o tema “Atividades no IML e na Defensoria Pública”, que também foi abordado na III Mostra Mineira de Práticas em Psicologia, em agosto. O convidado foi o psicólogo Tadeu Otávio Sales Sampaio, mestre em Gestão de Políticas Públicas, graduando em Direito e professor da Universidade Fumec. Clique aqui para ver as fotos do evento.
A roda de conversa contou com a participação da equipe do professor constituída pelos estudantes de psicologia Brenda Alessandra Corrêa e Guilherme Rocha, e Vanessa Cristina Santos, policial civil. A psicóloga Luciana Franco atuou como coordenadora do debate.
Tadeu Otávio explicou que é a primeira vez no Brasil em que a psicologia está junto ao Instituto Médico Legal (IML) e isso aconteceu a partir do momento em que o Instituto ficou responsável pela análise de imputabilidade e inimputabilidade de indivíduos. “É um campo novo. A psicologia está junto ao IML há apenas três anos, mas a tendência é crescer cada vez mais e fazer com que as pessoas reconheçam o trabalho”, relatou.
Ele apresentou as atividades desenvolvidas no Instituto esclarecendo que apenas 20% estão ligadas ao necrotério, onde é feito o acompanhamento da família do morto para reconhecimento do cadáver. A maior parte do trabalho está relacionada a exames de corpo de delito em casos de estupros ou violência doméstica, para os quais o psicólogo faz o acompanhamento. Além disso, esse profissional dá apoio aos peritos na avaliação de sanidade mental de indivíduos que cometeram crimes, visando auxiliar a justiça nas dosimetrias das penas ou indicação para medida de segurança.
Alienação parental – O convidado relatou a grande procura pelo IML quando o assunto é alienação parental. “Muitas mulheres que sofreram violência ou traição levam os filhos dizendo que o pai ou padrasto abusou da criança. E nós, profissionais, vemos essa menina ou esse menino, correndo pelo Instituto, brincando, com sinais de quem não sofreu abuso sexual”, declarou completando que este é um caso muito complicado, pois envolve políticas públicas.
Já na Defensoria Pública, o trabalho dos estagiários de psicologia é fazer com que o indivíduo entre em uma rede de atendimento. “Eles realizam uma avaliação de sanidade mental por parte dos usuários visando encaminhamento para a rede de atenção à saúde mental”, explica o professor.
Avanços e pesquisas no IML – Tadeu Otávio contou que o IML criou o Programa de Humanização e Atendimento a Vítima de Violência Sexual com o intuito de amenizar o sofrimento da vítima. “O objetivo é que essa pessoa não precise contar o ocorrido por diversas vezes em locais diferentes. O programa está presente em quatro hospitais de Belo Horizonte (Hospital das Clínicas, Júlia Kubitschek, Odete Valadares e Odilon Behrens) e conta com uma equipe de profissionais para atendimento”, afirmou explicando que em decorrência da novidade, o número de vítimas que procuram o IML vem diminuindo.
No que tange a estatísticas, ele disse que o IML vem realizando pesquisas como a que relaciona a entrada das mulheres no Instituto por necropsia (via necrotério) à passagem anterior das mesmas em decorrência de violência doméstica.
A investigadora da Polícia Civil Vanessa Cristina, que trabalha no IML há mais de 20 anos, completou dizendo que a vítima que procura, inicialmente, o hospital não tem a necessidade de ir ao IML, já que lá ela poderá realizar todos os exames e conversar com um profissional da polícia e com o psicólogo.
A função de Vanessa na equipe do professor Tadeu Sampaio é mostrar aos estagiários e profissionais, índices de crimes e outros números fundamentais para o trabalho.
Crianças são as principais vítimas – A estagiária da equipe do professor Tadeu Sampaio, Brenda Alessandra, é responsável pelo atendimento à vítima de violência sexual no IML. Durante o Psicologia em Foco desta quarta-feira, relatou que, na maioria dos casos, as vítimas são crianças de até 10 anos, abusadas por pessoas próximas, como pai, padrasto, tios e primos. “Muitas não conseguem e não querem falar o que aconteceu. Usamos brincadeiras e desenhos para tentar entender o acontecimento, mas não obrigamos, pois não sabemos a reação que esta vítima pode ter depois”, explicou. Brenda também comentou que é importante mostrar à família e à vítima a importância deste atendimento.
Antes de encerrar o evento Luciana Franco questionou sobre como é realizado este atendimento. A investigadora Vanessa Cristina disse que as vítimas são ouvidas e encaminhadas para exames necessários e preenchimento de fichas com relato do ocorrido. Todo o conteúdo, incluindo o laudo, é enviado para a delegacia. Quando o caso é de desaparecimento, os estagiários recolhem características físicas durante conversa com a família.