Psicologia em Foco propõe reflexão sobre os efeitos do trabalho contemporâneo nas subjetividades

Nesta quarta-feira, 23, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou nova edição do Psicologia em Foco, desta vez com o tema “O empobrecimento material e psíquico: desafios do trabalho na contemporaneidade”.

O adoecimento e as desigualdades foram os principais pontos levantados pelas convidadas Ana Elisa Fontes Villas, psicóloga organizacional, mestra em Administração de Empresas, doutora em Psicologia; e Valéria Wanda da Silva Fonseca, psicóloga clínica, psicanalista e doutora em Teoria Psicanalítica, docente titular do curso de formação em Psicanálise da Sobrap/JF. A mesa foi mediada por Nanci Rajão, graduada em Psicologia e mestra em Filosofia, professora e supervisora de estágio de pesquisa e de intervenção psicossociológica nas organizações e integrante da Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Assista o vídeo da transmissão.

Após fazer um histórico da atuação da Psicologia nas organizações, Ana Elisa Villas, ressaltou que o trabalho na contemporaneidade está permeado pela falta de segurança, desesperança e um forte comportamento de submissão dentro das organizações, gerando doenças.

Segundo ela, as causas que levam a esse cenário passam pela inovação tecnológica, o desaparecimento de várias funções, a alteração nas relações de poder, as mudanças estruturais da metodologia de gestão e a desterritorialização do trabalhador – que são as transferências de local de trabalho.

“São muitas as influências nos processos de subjetivação desse sujeito. A própria competitividade entre os pares, exacerbando o individualismo, a ameaça de desemprego constante e a insegurança quanto ao futuro, além das diversas relações e contratos de trabalho causam impactos profundos nas pessoas. E ainda me chama muito a atenção a mão-de-obra infantil e a desigualdade racial e de gênero no valor da trabalho”, concluiu a psicóloga. Ela também lançou ao público algumas perguntas como forma de reflexão: “o mundo tão desigual está possibilitando quais subjetividades? Como nós, psicólogas e psicólogos, podemos contribuir?”.

Adoecimento – A psicóloga Valéria Fonseca se apresentou na sequência ressaltando que o trabalho possui um grande valor para a contemporaneidade e que a noção dele por parte do sujeito é singular, pois cada pessoa vivencia de uma forma.

Também informou que os transtornos mentais estão no ranking das 10 principais doenças causadoras de afastamento no trabalho. “As pressões vão nos colocar determinados sentimentos que vulgarmente chamamos de depressão. É a sensação de infelicidade e de incompetência. Portanto, enquanto psicólogas devemos questionar esse vocabulário para localizar o sofrimento”, alertou.

A convidada convocou a categoria presente no Psicologia em Foco a refletir sobre a importância e os efeitos das tradições sociais nos sujeitos: “a grande maioria dos brasileiros ainda é orientada pelo senso comum, pela tradição familiar e pelas religiões. A ciência faz muito pouco efeito e essas ponderações são muito importantes para nós, psicólogas no entendimento da subjetividade”, explicou.

“As pessoas não estão conseguindo articular sua subjetividade com a praticidade que a tecnologia exige. Temos trabalhadores entristecidos, adoecidos e solitários. Temos uma geração de deprimidos”, afirmou.



– CRP PELO INTERIOR –