Psicologia na linha de frente garante melhor enfrentamento em contextos de enchentes, deslizamentos e rompimento de barragens

Minas Gerais e Bahia apresentaram como têm sido a atuação da categoria

No mesmo dia em que se completaram três anos do rompimento da barragem no córrego do Feijão, em Brumadinho, 25 de janeiro, que vitimou 270 pessoas, suas famílias e a comunidade, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizaram a live “Contribuições da Psicologia para a saúde mental em contextos de atingidos por enchentes e deslizamentos”, no canal da autarquia mineira, no youtube. Foi o primeiro evento de 2022 da série “Saúde Mental de Janeiro a Janeiro”.

Ela é composta por um conjunto de lives que ocorrem o ano todo no CRP-MG, porque a atenção em saúde mental precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades, de maneira a fazer o enfrentamento de todas as situações que impactam severamente a vida da população. E como o foco tem que acontecer de forma transversal e diversa, a cada edição propõe abordagens que dizem do cotidiano das pessoas, no que mais impacta naquele momento.

A conselheira presidenta do CRP-MG, Lourdes Machado, abriu a live lembrando que a tragédia em Brumadinho continua atingindo a população e que a luta por justiça e reparação não deve cessar. Ressaltou também pontos do código de ética da(o) psicóloga(o): “está entre seus princípios fundamentais que o nosso fazer deve também visar a promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas e das coletividades, contribuindo para eliminar toda forma de negligência e discriminação, que temos que atuar com responsabilidade social, analisando de forma crítica toda a realidade. Neste sentido, a Psicologia tem a ver com deslizamentos, enchentes e estes crimes. Por isso estamos aqui, nesta noite, para mostrar a nossa contribuição e o nosso dever enquanto profissionais”, assinalou.

Dividindo a mediação do evento com Lourdes Machado, a conselheira presidente do Conselho Federal de Psicologia, Ana Sandra, evidenciou que o país tem vivido um período de muitas perdas. “No caso dessas tragédias, a dor da perda e o luto de forma tão abrupta vão ocasionar inúmeras feridas que refletem na saúde mental. A Psicologia enquanto ciência e profissão possui um arcabouço instrumental que permite o cuidado identificando contextos e singularidades. Por ser esse um campo tão caro à nós, gostaria de destacar que diante das situações cada vez mais recorrentes de calamidades públicas e desastres, o CFP e os regionais têm reforçado o seu papel de orientar a categoria no sentido de promover estratégias de atuação e que pelo caráter dinâmico da nossa profissão, muitas vezes as soluções não estão prontas. Elas passam pelo diálogo e reflexão e se mostram assertivas sempre que construídas colaborativamente”, finalizou antes de passar a palavra para os convidados.

Papel amplo da Psicologia – A primeira apresentação foi realizada por Washington Luan Gonçalves de Oliveira, conselheiro presidente do CRP da Bahia, que colocou a experiência recente vivida no estado com grandes enchentes – região habituada a viver outra calamidade que é a seca. O psicólogo chamou a atenção para o fato que as comunidades afetadas não tem capacidade de se reerguer: “lhes faltam recursos materiais, financeiros, psicológicos e também de força física. Vemos municípios nos quais as pessoas não querem mais viver lá e, ao mesmo tempo, outras que não querem sair de onde nasceram e viveram pois têm apego àquele território. São sentimentos de medo horror, impotência, perturbação que demandam muito da nossa atenção”, relatou.

Para ele, a reestruturação destes territórios deve contar essencialmente com as(os) psicólogas(os) que possuem ferramentas teóricas e técnicas para estarem na linha de frente trabalhando junto com outros saberes  também na implementação da infraestrutura, nos diálogos jurídicos, sociais, da saúde, culturais, educacionais e para as condições tecnológicas e questões institucionais, reduzindo vulnerabilidades.

Rodrigo Chaves Nogueira, coordenador clínico da equipe de Saúde Mental de Brumadinho, fez sua exposição em seguida reforçando que as tragédias em Bento Rodrigues, Mariana e Brumadinho continuando em curso promovendo uma desconstrução cultural e social. Em seu relato, o psicólogo pontuou que o ocorrido em Mariana não fez soar o alerta necessário e que, portanto, em Brumadinho as equipes não estavam preparadas para a proporção que tomou o rompimento da barragem, sendo necessária a realização de muitas parcerias entre elas, com o CRP-MG.

“Hoje estamos vendo um maior investimento até mesmo na formação, no planejamento. Os estudos que estamos fazendo apontaram que alguns fatos vão aumentar e isso dirige melhor nossa atuação. Estamos vendo, por exemplo, o aumento dos quadros de ansiedade, depressão, uso abusivo de álcool e outras drogas, violência doméstica, adoecimentos da infância, uso de medicação sem condução de tratamento”, enumerou Rodrigo Chaves.

Assista a live completa:



– CRP PELO INTERIOR –