Psicologia nas Emergências e Desastres volta a ser discutida no Psicologia em Foco

O Psicologia em Foco Especial 9º Corep realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira (25/11) abordou as consequências de eventos como o rompimento das barragens de rejeitos de minério ocorrida na região de Mariana, no último dia 5.  “Psicologia frente ao desastre: o drama de uma realidade” foi o tema do debate que contou com os convidados Joari Aparecido Soares de Carvalho, psicólogo social no Departamento de Vigilância Socioassistencial, da Prefeitura de Suzano (SP); Karen Rafaela Santos, psicóloga clínica, coordenadora da Saúde Mental de Mariana; e Lilian Cecília Garate Castagnet, psicóloga Clínica com especialização em Psicologia Hospitalar (PUC-MG/Hospital Municipal Odilon Behrens) e em ‘Salud Mental en Emergencias, Catástrofes y Desastres’ (PUC-Chile), integrante do Grupo de Trabalho Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG. Clique aqui para  ver as fotos do evento.

O evento foi coordenado por Elaine Zanolla, conselheira referência do Grupo de Trabalho Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, que iniciou falando sobre o GT. “Nos preocupamos em revisar estudos da área para contribuir com os psicólogos, para quando acontece eventos como o de Mariana, termos uma vivência teórica e prática para lidar com as questões que surgem”, disse.

Plano de contingência – Em seguida Joari Carvalho fez sua exposição. Ele esclareceu que a atuação nesse tipo de situação é intersetorial e não cabe apenas à Defesa Civil, como se costuma supor. “O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por exemplo, localiza o atendimento em situações de calamidade pública e emergência na Alta Complexidade. Já a lei 12.983/2014 determina que no Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil, a ser elaborado em cada município, sejam definidas as ações de atendimento psicológico aos atingidos por desastre. Entretanto, são poucos os municípios que possuem um Plano de Contingência e os profissionais são convocados a darem respostas quando o desastre já ocorreu e é urgente tomar providências”, explicou.

O psicólogo alertou para o fato de que a elaboração do Plano e a adoção de estratégias preventivas é um direito que deve ser assegurado à população. “Por isso é importante que os profissionais monitorem o poder público e exijam a formulação do documento”, disse Joari destacando ainda que “a forma como os psicólogos devem trabalhar em situações de calamidades e desastres também está prevista no Código de Ética profissional”.

Alinhamento de estratégias – A coordenadora da Saúde Mental de Mariana foi a próxima a falar. Segundo ela, no município houve uma dificuldade inicial de alinhamento das estratégias de intervenção. “Ficamos sabendo do ocorrido por volta de 17h e fomos para a arena com outros profissionais e não sabíamos como fazer, não tínhamos um plano de contingência. Nos organizamos com muitos atores envolvidos: secretárias da defesa civil. Muita gente querendo fazer muita coisa e cada um sabendo que tem a capacidade de fazer da sua forma. Mas muitas ações foram duplicadas. Proteger as pessoas dos danos adicionais: isso tem que ser uma preocupação para nós”, contou Karen Santos.

Para a psicóloga ficou clara a necessidade de regular as ações, pois se há um plano se torna possível alinhar com outras secretarias. “Atualmente estamos com o plano municipal que irá nos orientar daqui para frente. Vamos manter um profissional da psicologia no ambulatório”, contou ela.

Karen Santos concluiu dizendo que todos devem refletir sobre sua melhor forma de contribuir frente ao desastre.

Recursos profissionais – Lilian Garate Castagnet finalizou a fase de exposições ressaltando a importância do respeito ao Código de Ética Profissional e de reconhecer as características profissionais enquanto psicólogo. “Quando falamos de psicologia de emergências e desastres temos que considerar suas particularidades e diferenças do atendimento psicológico tradicional. Podemos usar nossos recursos como terapeutas, mas é preciso pensar diferente, aplicar uma situação mais controlada e lidar com outros agentes, outros fatores que não somente os psicológicos”, alertou.

Outra questão colocada pela integrante do Grupo de Trabalho Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG foi a reflexão que os psicólogos devem fazer: com quem vamos trabalhar? Quem são as pessoas que podem ser atendidas? “Muitas vezes, só sabemos que estrutura teremos na hora que chegamos ao local. Também não podemos chegar para ajudar sem conhecer bem as necessidades. Do contrário nos tornaremos mais uma vítima”, apontou Lilian que concluiu.



– CRP PELO INTERIOR –