Roda de conversa aborda violência contra mulheres lésbicas e bissexuais

Na última quinta-feira (18/8), o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual, promoveu a roda de conversa “Construindo a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres lésbicas e bissexuais de Minas Gerais”. As fotos do evento podem ser acessadas aqui.

Paula Duarte, psicóloga, integrante da Comissão e do coletivo ampliado do Núcleo ABRAPSO BH, coordenou a mesa e iniciou sua fala com algumas considerações sobre a construção da rede. “Pensar em uma rede de enfrentamento seria pensar na atuação articulada de instituições e serviços, sejam eles de nível governamental ou não-governamental ou sociedade civil, para o desenvolvimento de estratégias de prevenção para empoderar as mulheres e seus direitos, com a responsabilização dos autores, além da assistência qualificada a àquelas em situação de violência”, pontuou.

A psicóloga também realçou que falar desse tema implica em abordar o contexto político atual. “É um poder que se mostra contrário às minorias, mas é por meio de conversas como essa que podemos conseguir multiplicadores”, declarou. Paula ainda afirmou que as fontes onde são encontrados dados de violência contra a população LGBT são precárias. “A maioria das informações são baseadas em notícias dadas pela imprensa, porém essas não correspondem a todos os casos ocorridos”, afirmou.

Poder Judiciário – Mariana Septímio, advogada associada à Associação Democracia Ativa e integrante do GUDDS! deu continuidade ao debate e falou  sobre o poder judiciário. “Nele se tem práticas que impõem verdades e que ratificam violências históricas. Além disso, forjam identidades homogêneas que beneficiam o sistema de supremacia racial branca, o autoritarismo, o machismo e várias outras formas de opressão”, criticou.

Para finalizar, Mariana afirmou que a lesbofobia intrafamiliar é muito invisibilizada e se perguntou o porquê desse silêncio. Ela ainda apontou que o assassinato entre mulheres brancas diminuiu e aumentou entre as negras. “Então quer dizer que o feminicídio tem endereço certo e temos que nos juntar para proteger nossas companheiras”, disse.

Estratégia de autopreservação – Bel Lisboa, feminista, especialista em gestão estratégica de políticas públicas e superintendente do enfrentamento à violência contra as Mulheres da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania de Minas Gerais falou sobre o preconceito que as lésbicas ainda enfrentam. “Por causa da imposição do modelo heteronormativo patriarcal, muitas mulheres lésbicas se mantêm no ‘armário’ como uma estratégia de autopreservação. Esse modelo tem vários efeitos sobre a vida dessas mulheres como a construção de estratégias de sobrevivência e inserção na sociedade que implica na sua auto invisibilização”, pontuou.

Lesbofobia e machismo – Bel Lisboa afirmou que o machismo aumenta quando homens se deparam com mulheres lésbicas. “Alguns homens não aceitam a rejeição e acabam cometendo crimes passionais contra a mulher e o machismo se agrava quando as mulheres preferem outras para se relacionarem”, declarou. Bel também falou sobre a relação entre lesbofobia e machismo. “São duas questões violentas que estão ligadas. A lesbofobia e as violências que as lésbicas enfrentam cotidianamente nada mais são que ações legitimadas pelo sistema que deseja controlar os corpos das mulheres”, completou.

Bel Lisboa ainda relatou que as lésbicas têm sua sexualidade frequentemente questionada e que bissexuais são chamadas de indecisas. “Mesmo num casal de duas mulheres que se amam ainda permanecem tentativas de atribuição dos papeis masculino e feminino. As regras que surgem dentro da relação não necessariamente devem estar ligadas às de um relacionamento heterossexual”, afirmou.

Violência – Ermelinda Ireno, pedagoga e subintendente do Consórcio Regional de Promoção de Cidadania falou sobre a situação de mulheres lésbicas em relação à Lei Maria da Penha. “Se para as mulheres heterossexuais já há uma discriminação quando há uma denúncia, imagina para as homossexuais femininas? Também observamos esse preconceito em promotores, juízes quando definem a situação de uma mulher que agrediu a companheira”, pontuou.

Ermelinda ainda afirmou que, na visão da sociedade, a lei só é válida para relacionamentos de homens e mulheres. “Outra questão que nos incomoda é o fato das pessoas acharem que pautas relacionadas à violência contra a mulher já estão gastas, que já se fala demais sobre o assunto. Mas os dados do Mapa da Violência nos demonstram que devemos falar cada vez mais do tema”, observou.



– CRP PELO INTERIOR –