Saúde mental de sobreviventes ao suicídio foi tema da última live de setembro

Série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro trouxe reflexões sobre as diferenças do luto por morte traumática e suas dimensões

“O luto por suicídio: a saúde mental das(os) sobreviventes” foi o título da live realizada pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) nesta terça-feira, 27, em seu canal no Youtube. O evento, que integrou a série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro, teve como objetivo refletir sobre as possíveis diferenças entre o luto por autoextermínio e os demais, conceitos, dimensões e percepções relativas a quem sobrevive.

Participaram como expositoras as psicólogas Ardelia Morais Oliveira Figueiredo, mestranda em Psicologia: Cognição e Comportamento e pesquisadora colaboradora do Laboratório de Processos Cognitivos – Labcog da Universidade Federal de Minas Gerais; e Michelle Alexandra Gomes Alves, suicidóloga, psicodramatista, professora da UEMG-Barbacena e esquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Saúde da UEMG. A conselheira e coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, Cristiane Nogueira, mediou a conversa.

Ardelia Figueiredo iniciou a fase de apresentações trazendo conceitos relacionados ao tema: o luto – que segundo ela se diz de qualquer processo de perda, seja numa relação amorosa, a morte de um animal de estimação ou até mesmo a mutilação de membro do corpo em uma cirurgia -, a morte traumática e as dimensões que a literatura traz como a ambiguidade, o estigma, a evitabilidade aparente da morte, a natureza traumática e a intencionalidade percebida.

“Quando perguntamos a quem está enlutado se esse luto por suicídio é diferente, a resposta certamente será positiva, porque essa pessoa reconhece algumas diferenças”, explicou a psicóloga. No seu entendimento, mortes traumáticas como o suicídio são repentinas, violentas e estressantes fazendo com que quem fica precise de diferentes mecanismos para enfrentar, sobretudo porque se tornam relutantes para falar do assunto, pois se sentem envergonhadas, vítimas do julgamento alheio. “A abrangência do comportamento suicida é individual, mas também social e cultural de cada época, pois impacta muito nos outros indivíduos”, concluiu, Ardelia, que indicou a autora Karine Okajima Fukumitsu sobre o assunto.

Na sequência, Michelle Alves trouxe um aprofundamento da primeira exposição. Ela explicou que os sobreviventes do autoextermínio são um grupo de alto risco porque estão vivenciando um luto patológico, apresentando alguns transtornos mentais por conta de um luto diferenciado, que traz sentimentos antagônicos. “Essas pessoas precisam ser acolhidas e amparadas para retomarem a rotina, a qualidade de vida, já que vivenciam esse luto diferenciado, repleto de tabus sociais”, descreveu ressaltando que a grande dificuldade de falarem sobre o assunto está justamente na estigmatização social.

“Vemos várias questões que ficam sem resposta, demandando desses enlutados construir histórias para dar sentido à perda”, pontua a suicidóloga. Segundo ela, são necessários espaços para promover essa saúde mental, para elaborar o luto de forma mais saudável, como nos grupos de pósvenção, onde ocorre o cuidado focado em quem fica. Michelle encerrou indicando como bibliografia o “Tratado de Suicidologia”, de Humberto Corrêa (org). Belo Horizonte: Editora Ampla, 2022.
Antes de encerrar, a conselheira Cristiane Nogueira realçou a importância da live e de abordar a temática durante o ano todo.

Sobre a série – “Saúde Mental de Janeiro a Janeiro” é composta por um conjunto de lives que ocorrem o ano todo porque a atenção em saúde mental precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades, de maneira a fazer o enfrentamento de todas as situações que impactam severamente a vida da população. E como o foco tem que acontecer de forma transversal e diversa, a cada edição propõe abordagens que dizem do cotidiano das pessoas, no que mais impacta naquele momento.

Assista aqui:



– CRP PELO INTERIOR –