Sofrimento mental das pessoas fanatizadas pauta live de abertura da série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro em 2023

A conversa promoveu reflexões sobre os processos experienciados por esses indivíduos e a necessidade de responsabilização de atos realizados contra a democracia.

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou, em seu canal no youtube, a live “O circuito dos afetos no sofrimento mental das(os) fanatizadas(os)”. A atividade marcou o retorno da série “Saúde Mental de Janeiro a Janeiro” em 2023.

A live refletiu sobre a saúde mental das pessoas que têm se manifestado em atos de terrorismo e vandalismo contra a Democracia, e atentou para a necessidade de realizar junto à categoria, um ambiente de trocas à respeito das origens e consequências desse fenômeno social.

Na ocasião, as(os) profissionais discorreram sobre a importância de dialogar sobre tais demonstrações de ódio ao pensamento diverso, considerando que é um tipo de afeto nutrido pelo ressentimento, e ainda que o fanatismo e o espírito de grupo exigem uma liderança para sua existência.

A transmissão contou com a participação de Daniel Caldeira, psicólogo, mestrando em Gestão de Políticas Públicas (EACH/USP) e especialista em Gestão de Pessoas e Projetos Sociais e Análise Institucional, Esquizoanálise e Esquizodrama. O profissional é conselheiro do CRP-MG, onde integra a coordenação da Comissão de Direitos Humanos e também representa a subsede Triângulo.

Raul Albino Pacheco Filho, psicólogo, mestre e doutor também se juntou ao diálogo. Ele é coordenador da Rede de Pesquisa Psicanálise e Saúde Pública do Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo. Atua como professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde coordena o Núcleo de Pesquisa Psicanálise e Sociedade.

A mediação foi de Paula de Paula, psicóloga, doutora em Psicologia social (PUC-SP), professora da Faculdade de Psicologia e do curso de Educação Física da PUC-MG. Coordenadora do Núcleo de Estudos de Processos Psicossociais da PUC Minas Betim e do núcleo da ABRAPSO-MG/Betim. É psicanalista praticante em consultório particular, conselheira do CRP-MG e Referência do Crepop no atual Plenário.

O conselheiro do CRP-MG, Daniel Caldeira trouxe para o debate o caso de Madalena Gordiano, que foi submetida a anos de situação de trabalho análoga à escravidão. Ele destacou a relação do fato com os atos de opressão voltados às populações vulneráveis.

“Estamos vivendo momentos em que o fanatismo está presente na sociedade, e ele vem recheado de casos extremos de violações de direitos contra alguns grupos e comunidades específicas. Mulheres, pessoas pretas, indígenas e pessoas LGBTQIA. Acredito que o ódio e violência estão ancorados em um pensamento branco, racista, conservador, patrial e classista”, assevera.

O doutor em Psicologia, Raul Albino, iniciou sua fala reiterando que tem um cuidado ao abordar o sofrimento dos fanatizados que se envolveram ou se envolvem em atos de vandalismo e ataques contra a democracia: “eles sofrem, mas não devem ser desresponsabilizados. Podemos e devemos falar do sofrimento mental dos fanáticos, mas sem que isso sirva de pretexto para a inimputabilidade de seus atos e o prejuízo e sofrimento físico e mental provocados a outras pessoas”, ressalta.

Paula de Paula corroborou com a conversa expressando a importância da live em trazer a questão do sofrimento experienciado por essas pessoas. “Lacan já traz que, no lugar de sujeito, nós somos responsáveis. De alguma maneira espera-se, então, que essas pessoas tenham a possibilidade de fazer uma retificação subjetiva e se darem conta do que estavam fazendo. Mas esperamos sobretudo, que a própria realidade se imponha e que esses indivíduos possam saber da manipulação e do recurso utilizado contra a angústia e o ressentimento por perda de privilégios estruturais”, conclui.

Assista a íntegra:

O evento realizado mensalmente pela autarquia, por meio da Comissão de Orientação em Psicologia, Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, sugere que a temática precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades, de maneira a fazer o enfrentamento de todas as situações que impactam severamente a vida da população.



– CRP PELO INTERIOR –