Desastres ambientais e discurso de ódio marcam campanha do CFP em Minas Gerais

Temas foram abordados em edição especial do Psicologia em Foco

O dia 25 de junho marcou 5 meses do rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, que deixou 246 pessoas mortas e 24 desparecidas. Nesta quarta-feira, 26/6, o tema norteou a abordagem do Psicologia em Foco, intitulada “As(os) atingidas(os) por desastres ambientais e o discurso de ódio”.

Participaram da mesa, o psicólogo e membro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ematuir de Sousa; a psicóloga e coordenadora da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, Lilian Garate; e como mediador o conselheiro e coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG, Reinaldo da Silva Júnior.

O evento marcou a chegada da Campanha Nacional de Direitos Humanos do CFP. Reinaldo da Silva Júnior ressaltou a importância da atuação do CRP-MG na problemática das barragens de Minas Gerais, devido à violação de direitos das(os) atingidas(os).

Ematuir de Sousa remontou o histórico da Campanha Nacional de Direitos Humanos, criada em 2018 pela Comissão de Direitos Humanos do CFP. Segundo o psicólogo, o slogan “discurso de ódio não” tem o intuito de problematizar o lugar da Psicologia no cenário de mazelas sociais e nas questões estruturais de desigualdades que sustentam a violência no Brasil.

O psicólogo também narrou a história de uma barragem construída em Blumenau, devido à instalação de uma hidrelétrica. A barragem fica na região de terra indígena e afetava diretamente a população em épocas de cheias. Para finalizar, leu um texto com as palavras da liderança indígena local:

“Antes disso, a comunidade indígena vivia em um lado do rio, toda unida, era apenas uma aldeia. A barragem fez com que a comunidade se separasse e hoje temos 8 aldeias, muito distantes. Isso foi um prejuízo na questão psicológica do indígena, pois impactou em toda nossa cultura e tradição. A comunidade sofre os reflexos psicológicos da barragem, que afetou diretamente nossas vidas, pois hoje, o rio, que era nossa casa, passa a não existir mais“.

A coordenadora da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, Lilian Garate, explicou que no campo de estudos das emergências e desastres não se usa mais o termo desastre natural. Segundo ela, por mais que a origem seja um fenômeno da natureza, todo desastre tem participação humana, seja por falta de prevenção, falta de planejamento estratégico ou de medidas de contenção.

Além das estruturas já rompidas, Minas Gerais abriga, também, barragens com risco iminente, como em Barão de Cocais e Macacos. Lilian alertou que, diante do abalo emocional que o próprio risco proporciona, não é necessário falar de desastre somente quando acontece a ruptura. Para ela, a desqualificação do desastre é uma forma de discurso de ódio, uma vez que questiona a dor do outro.

A psicóloga enfatizou que o discurso de ódio costuma aparecer quando as populações assumem uma posição de resistência frente às empresas. “Quando as pessoas lutam pelos seus direitos, a raiva do restante da população aparece com mais força”, lamentou.

Sobre a condução do fazer psicológico neste cenário, Lilian observou que é importante reconhecer que todas as pessoas, mediante um desastre, são atingidas. “Se não aconteceu comigo, mas aconteceu com meu vizinho, eu também fui atingido. Que a dor do outro possa ser escutada e que ela possa ser considerada nas ações de reparação que são necessárias neste momento”, salientou.

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– CRP PELO INTERIOR –