Violência contra as mulheres é abordada no Psicologia em Foco

“A persistência da violência contra as mulheres na sociedade brasileira e como a enfrentamos”. Esse foi o tema de mais um evento preparatório, o Psicologia em Foco, para a 9° edição do Corep. O debate que aconteceu nesta quarta-feira (18/11) teve  como convidada Ermelinda Ireno, especialista em Gestão Pública (Fundação João Pinheiro) e pedagoga (FAE-UFMG), superintendente do Consórcio Mulheres das Gerais que coordena a Rede Estadual de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher em 2015; e Raquel Silveira, doutora e pós doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), professora do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UFRGS e Psicologia Aplicada ao Direito da UniRitter (2004-2013). Clique aqui para ver as fotos do evento.

A coordenação ficou a cargo da psicóloga e mestre em psicologia social (UFMG) Thalita Rodrigues. Ela é tutora orientadora do curso de Especialização “Gênero e Diversidade na Escola” (GDE) do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LBGT (NUH-UFMG), integrante da “Coletiva Estamira de Mulheres Psicólogas” e da Comissão de formação da “Rede de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres de Minas Gerais”.

Dados alarmantes – A mesa iniciou com Emerlinda relatando dados do Mapa da Violência 2015 – Homicídios Mulheres no Brasil e fazendo uma comparação com a década de 80. Segundo ela, o número de mortes entre 1980 e 2013 passou de 1353 para 4762: um aumento de 252%. “Nesta década ocorreu a primeira política pública referente à violência contra as mulheres, uma delegacia especializada as vítimas de violência. A partir daí, o movimento feminista vinha fomentando a criação de alguma política e com o tempo foi sendo criado outras intervenções, como os núcleos de defesa da mulher, promotorias especializadas de atenção a violência, coordenadorias, conselhos e a Lei Maria da Penha”, afirmou.

A psicóloga relatou que esse atendimento a mulher está especializado demais e que esse é, na verdade, o grande desafio. “Os serviços focam em uma perspectiva única e as mulheres acabam se perdendo nesses locais quando buscam ajuda. Dependendo do lugar que procura é rejeitada com a resposta de que ali não se trata da violência que ela sofreu. É com casos assim, que elas param de acreditar nas políticas e não procuram ajuda quando precisam”, explicou.

Em se tratando de feminicídios, Ermelinda afirmou que tem crescido em cidades com a população abaixo de 20 mil habitantes e que as políticas publicas não alcançam esses municípios de forma correta.  Ela também pontuou que a sociedade brasileira é patriarcal, machista e que a população não dá conta de alterar o processo da cultura. “Se você fala para uma categoria que ela tem direitos de viver sem violência, ela reagirá e consequentemente outros reagirão também. É o caso das mulheres. Hoje elas reagem mais do que no passado”, afirmou, concluindo que as especialidades dos serviços não bastam para concretizar em uma diminuição da violência contra a mulher.

Mais diálogo – Na sequência, Raquel Silveira afirmou que as mulheres, muitas vezes, não acreditam nas políticas públicas impostas e que o diálogo seria capaz de minimizar esta falta de confiança, principalmente com as que são violentadas.

Ela também colocou sua preocupação com relação às posições do governo. “É muito complicado pensar nesse cerceamento do plano nacional de educação de discutir gênero, raça e diversidade sexual usando a ideologia de gênero, que é absurda para quem tem pouca discussão teórica. Já ouvi um desembargador dizer que a Lei Maria da Penha deveria servir para proteger a família e não a mulher”, relatou.

A psicóloga comentou sobre um feminismo negro bem atuante no Brasil e a importância de abordar o enfrentamento à violência contra essas mulheres. “Para as pessoas que estudam a temática racial é interessante ressaltar que há uma solidão nas mulheres negras. Elas são preteridas na questão do compromisso, mas não do sexo”, declarou afirmando que quando encontram um companheiro, às vezes, se deparam com um homem violento.

Raquel ainda falou sobre o poder da Lei Maria da Penha. Segundo ela, essa é uma lei produtiva, punitiva e preventiva. “Ela é preventiva no sentido de discussão sobre a ideologia de gênero que existe sim no país e que não aborda as mulheres transsexuais e as travestis. A lei fala em orientação sexual, mas não aborda a identidade de gênero. As mulheres transsexuais e travestis muitas vezes são assassinadas em situação de intimidade e devemos classificar sim como violência contra as mulheres”, reforçou.  A doutora ainda completou falando que quando essas mulheres, que ainda não fizeram troca de sexo, chegam à delegacia, eles não aceitam atender o caso. “A lei acaba individualizando a mulher”, afirmou.

“O maior problema é que não dialogamos quando sofremos violência. Temos que melhorar muita coisas. Trazer essas mulheres para participar de fóruns e principalmente entender o que é violência”, concluiu Raquel.

Avanços na violência contra a mulher – Thalita Rodrigues deu um posicionamento sobre os avanços: o Estado tem realmente reconhecido a violência contra as mulheres, mas é importante percebemos que a primeira medida foi pensada na segurança pública. Isso nos diz como temos enfrentado esse tipo de violência”, relatou.

A psicóloga afirmou que ” as políticas públicas ainda não se efetivaram. São tão especialistas que acabamos produzindo sujeitos, aqueles que podem e aqueles que não podem acessar”, declarou. Por fim, Thalita lançou a pergunta: “Como vamos enfrentar as desigualdades se temos dificuldades de reconhecê-las?”, concluiu.



– CRP PELO INTERIOR –