21 jan Conselho realiza primeira live do projeto “Saúde Mental de Janeiro a Janeiro”
Serão promovidos encontros mensais sobre saúde mental em interface com outros temas
O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu na terça-feira, 19/1, a live “Saúde mental de Janeiro a Janeiro”. A ação marca o início de um ciclo de encontros mensais que irá pautar assuntos relativos à saúde mental.
A primeira live contou com a participação da conselheira presidenta do CRP-MG, Lourdes Machado, da conselheira e coordenadora da Comissão de Orientação em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do CRP-MG, Cristiane Nogueira, e da trabalhadora da área de saúde mental na Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais, Ana Regina Machado.
Janeiro a Janeiro – A conselheira presidenta do CRP-MG contextualizou a iniciativa que passa a ser promovida pelo Conselho em 2021. “A campanha Saúde Mental de Janeiro a Janeiro é uma proposta do Conselho Federal de Psicologia que o Conselho Regional de Minas aderiu porque a atenção em saúde mental precisa ser permanente, em todos os níveis de cuidado, com foco não apenas no indivíduo e suas subjetividades, mas em todas as coletividades, de maneira a fazer o enfrentamento de todas as situações de estresse que impactam severamente a vida da população. Entendemos que esse foco tem que acontecer de forma transversal, diversa e em todos os meses do ano”, explicou.
Lourdes Machado também realçou a importância das políticas públicas na promoção da saúde, com destaque para a atuação dos Sistemas Únicos de Saúde e Assistência Social – SUS e SUAS – no enfrentamento à pandemia de Covid-19; e a atuação do CRP-MG na luta contra a decisão do governo federal de revogar cerca de 100 portarias da política de saúde mental, que foram expedidas desde os anos 1990 e, junto com a lei Paulo Delgado de 2001, constituem o núcleo jurídico e institucional da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Discussão junto à sociedade – Segundo a conselheira Cristiane Nogueira, a proposta é que a campanha em Minas Gerais possa articular um conjunto de ações, como as lives e a produção de materiais de orientação, que contribuam para dar visibilidade à saúde mental.
“É muito relevante que o tema da redação do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] do último domingo tenha abordado a saúde mental. Sabemos que essa medida pauta o assunto não apenas com os jovens, mas junto a toda sociedade brasileira. Nossa expectativa é de que o cuidado com a saúde mental faça parte da agenda das pessoas, assim como os cuidados com o corpo físico”, argumentou.
Atuação construída no dia a dia – A psicóloga Ana Regina Machado compartilhou com o público questões e experiências vividas em 25 anos como trabalhadora do campo da saúde mental no SUS. “Nós fazemos no SUS muito mais do que tradicionalmente se imagina para um profissional de saúde, que seriam consultas e atendimentos. Nós construímos toda uma rede de relações que permitem que as pessoas com sofrimento mental grave e pessoas usuárias de drogas tenham outras inserções na vida”, relatou.
Na construção desse fazer, a psicóloga chamou atenção para a centralidade dos usuários, que implica dar visibilidade, considerar os contextos de vida e as saídas que constroem para os seus embaraços; e para a necessidade de manter a disponibilidade para o acolhimento do outro, participando da construção de modos de seguir pela vida que sejam menos sofridos. “Isso tem muito mais a ver com a prática psicossocial, do que com prescrever e fazer diagnósticos. É uma construção que não está completamente descrita em um livro ou num artigo, vamos fazendo todos os dias”, afirmou.
Remar contra a maré – Ana Regina Machado também apresentou expressões do atual contexto brasileiro que têm implicações diretas para a saúde mental: políticas de destruição de vidas (a necropolítica), que financia espaços de controle de corpos e violações de direitos; crimes desastres ambientais, tais como os ocorridos em Mariana e Brumadinho, que afetam profundamente comunidades inteiras; a pandemia de Covid-19 e todos os seus efeitos; e a ameaça de revogação dos pilares que sustentam a Reforma Psiquiátrica Brasileira.
“Nós, trabalhadores, é que temos sustentado ao longo dos anos essas formas de cuidado com dignidade, em liberdade. Então, há uma sensação de estar remando contra a maré, estamos tentando produzir vida e saúde mental em contextos completamente desfavoráveis”, analisou.
A live completa pode ser assistida a seguir: