03 dez Quem faz a Psicologia em Minas?
Na penúltima edição da nossa série de matérias especiais, o destaque é quem está na ponta fazendo a profissão acontecer
Você sabia que o Brasil é um dos líderes no ranking mundial de psicólogas(os) em atividade? São 550.459 profissionais registradas(os) no país, segundo dados do Sistema Conselhos de Psicologia. Dessas(es), quase 58 mil estão em Minas Gerais. Para comparar, a American Psychological Association (Apa), dos Estados Unidos, reúne cerca de 160 mil membros. Já a Federação Europeia de Associações de Psicólogas(os) (EFPA), que contempla 37 países, abrange cerca de 400 mil profissionais.
Mas quem são as pessoas por trás desse número crescente? Onde estão e de que forma atuam? É o que vamos descobrir nesta edição da nossa série especial em comemoração aos 50 anos do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG).
Com o auxílio de materiais publicados pela autarquia ao longo das últimas décadas, disponíveis no acervo digital do CRP-MG, vamos relembrar a trajetória da categoria psi, um grupo diverso que, enquanto cresce, também se conhece, reconhece e reinventa junto com a profissão.
Como tudo começou
Quem vê a Psicologia tão difundida hoje no Brasil, não imagina que esse saber chegou ao país como uma disciplina, vinda principalmente da Europa, compondo o currículo de outras áreas.
Em Minas, a Psicologia emergiu a partir de 1927, por ocasião da reforma educacional. As)os) primeiras(os) docentes eram filósofas(os), sociólogas(os), médicas(os) e pedagogas(os) com experiência prática na área, conforme descreve o artigo publicado na edição especial do Jornal do Psicólogo, que recuperou parte dessa história quando a profissão comemorava 30 anos.
E por falar em pessoas, quando a Lei Nº 4.119, que regulamentou a Psicologia, foi publicada em 1962, quem já exercia ou tivesse exercido atividades profissionais na área por mais de cinco anos poderia solicitar o registro profissional.
Mas, apesar da Lei, esse era um campo que se mantinha em disputa e foi necessária muita luta e articulação para consolidar o espaço das(os) psicólogas(os). É o que narra outro artigo, que resgata o desafio enfrentado pela categoria para a criação dos Conselhos.
O esforço valeu a pena e fortaleceu a profissão. Quando ocorreu a regulamentação no início da década de 1960, havia apenas 15 profissionais registradas(os) no país. Vinte anos depois, o número de psicólogas(os) chegou a 33.522, em 1982. Pouco depois, em 1988, esse número dobrou, alcançando a marca de 70 mil cadastradas(os) nos Conselhos Regionais.
Em Minas, eram 10 mil, em 1991. Após pouco mais de 3 décadas, o número de trabalhadoras(es) inscritas(os) no CRP-MG ultrapassou a marca de 57 mil. Em nível nacional, atualmente a categoria reúne mais de meio milhão de pessoas.
Formação e especialização
O aumento de registros também acarreta desafios. Existem hoje mais de 1.300 cursos de graduação em Psicologia, de acordo com dados do e-Mec. Na década de 1980, o padrão de ensino e as condições de formação já preocupavam as(os) psis.
Enquanto o número de profissionais crescia, expandiam-se também os campos de atuação. Na década de 1980, por exemplo, falava-se da Psicologia Comunitária, necessária em situações como a inundação de cidades para a criação de hidrelétricas.
Já áreas que hoje são comuns, como a Psicologia Escolar, Esportiva e Organizacional, eram novidade na década de 1990.
Até que no ano 2000, foi aprovada a Resolução CFP 014/00, que oficializou o registro de especialista e listou as especialidades reconhecidas.
Perfil
Mas tão diversa quanto a Psicologia é a própria categoria que a compõe. Quem são essas pessoas, onde estão e de que forma atuam? É o que pesquisas de perfil realizadas ao longo do tempo visavam compreender. Na década de 1980, por exemplo, constatou-se que a clínica era responsável por empregar a maioria das(os) profissionais.
Já as pesquisas não eram o campo de trabalho preferido das(os) psicólogas(os) naquela época. Segundo artigo publicado no Jornal do Psicólogo em 1990, apenas 5% da categoria mineira se dedicava a elas.
Também foram realizadas pesquisas específicas, como a que delineou o perfil das(os) profissionais que trabalhavam nas escolas, em 1991. Segundo o estudo, a Psicologia Escolar era composta quase que de forma absoluta por mulheres, na faixa média dos 36 anos, que recebiam entre 3 e 5 salários mínimos.
Em 2015, foi a vez de se entender o crescimento da profissão. Foi constatado que de 1970 a 2009 houve um avanço significativo na interiorização da Psicologia. De acordo com a pesquisa, as psis mulheres continuavam sendo maioria, mas apenas 3% delas se identificavam como mulheres negras.
O mapeamento mais recente foi o Censo da Psicologia Brasileira, realizado em 2022. De acordo com ele, a categoria psi atualmente tem um perfil jovem, segue majoritariamente composta por mulheres e se concentra mais na região Sudeste do país.
O Censo Psi 2022 também fez um levantamento inédito com dados sobre orientação sexual, gênero, raça e deficiência.
Reconhecimento
Essa categoria diversa, que, como mostramos na edição anterior da nossa série, carrega lutas históricas em favor da sociedade, há anos também batalha pela valorização da profissão, a exemplo da defesa do piso salarial, da jornada de 30 horas e da implementação da Lei Nº 13.935, que dispõe sobre a prestação de serviços de Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de educação básica.
É impossível esgotar o imenso baú de memórias construído nos últimos 50 anos, mas revisitar alguns desses registros é um reconhecimento ao legado de gerações de psicólogas e psicólogos que lutaram e seguem lutando por condições dignas de trabalho e por uma sociedade mais justa e mais saudável. Uma história que se mistura à do próprio Conselho, criado para orientar, disciplinar, fiscalizar e regulamentar o exercício da profissão.
Por isso na próxima e última edição da nossa série de matérias especiais em comemoração ao cinquentenário do CRP-MG, você é nossa(o) convidada(o) para percorrermos juntos o passo a passo dessa trajetória, em uma linha do tempo que compila e eterniza uma jornada que está só começando…
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